Normalmente, temos uma tendência a associar a lentidão das tartarugas com hábitos herbívoros e pacíficos. Só que isso não é verdade. Algumas tartarugas não apenas são carnívoras, como também caçam para se alimentar. Curiosamente, esse fato ainda não havia sido documentado.
Agora, um artigo publicado nesta segunda-feira (23) na revista científica Current Biology traz, pela primeira vez, imagens com o registro de uma tartaruga pronta para predar: no vídeo, o quelônio consegue encurralar, morder a cabeça, matar e devorar um filhote de andorinha-do-mar. E naturalmente esse não é um caso isolado de uma tartaruga matando e comendo sua presa, haja vista que os cágados, por exemplo, são extremamente vorazes.
O vídeo foi feito por Anna Zora, vice-gerente de conservação e sustentabilidade da pequena ilha Frégate, nas Seychelles, na costa da África Oriental, no oceano Índico. Segundo Justin Gerlach, autor do artigo e diretor de Estudos de Biologia da Universidade de Cambridge, ele próprio custou a acreditar no que estava vendo. “Foi horrível e incrível ao mesmo tempo”, disse em comunicado.
A tartaruga é uma caçadora experiente
A tartaruga se aproxima da presa com a mandíbula aberta e a língua retraída (Justin Gerlach/Twitter/Reprodução)Fonte: Justin Gerlach/Twitter
A tartaruga-comum também é uma espécie carnívora, caçando moluscos, crustáceos, conchas e partes de animais ricas em cálcio. Porém, afirma Gerlach, nunca foi possível afirmar com certeza se o quelônio matou diretamente o animal ou se já o encontrou esmagado ou morto, e se beneficiou de "um pouco de proteína grátis".
Mas não foi esse o caso da tartaruga da ilha Frégate. “Pareceu-me que aquele indivíduo já havia caçado com sucesso antes; parecia saber o que estava fazendo", diz Gerlach. No vídeo, a tartaruga caça a sua presa, e parece ter experiência na captura de filhotes em cima de troncos. Quando o filhote cai do ninho, seu instinto é evitar a todo o custo o solo, para evitar predadores. Paradoxalmente, esse comportamento permitiu que a tartaruga o encurralasse.
Apesar de esse espécime em particular ter se revelado um caçador experiente, a pesquisa questiona quantas tartarugas atuam da mesma forma e com que frequência o fazem. Gerlach propõe que o programa ambiental conduzido na ilha Frégate pode estar “recriando condições para comportamentos naturais que as pessoas não veem há centenas de anos”.
ARTIGO Current Biology: doi.org/10.1016/j.cub.2021.06.088
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