Aqui na Terra, operadores de constelações de satélites são constantemente forçados a alterar suas posições por causa de encontros com outras espaçonaves e pedaços de lixo espacial. Falamos mais sobre o problema nesta matéria.
Os principais causadores da situação, segundo Hugh Lewis, chefe do Grupo de Pesquisa Astronáutica da Universidade de Southampton (Reino Unido), são os satélites Starlink da SpaceX. As estimativas apontam que o número dessas abordagens perigosas continuará a crescer.
Os satélites da SpaceX estão envolvidos em cerca de 1.600 casos de "quase encontros" entre espaçonaves todas as semanas. Esses encontros incluem situações em que duas espaçonaves passam a uma distância de apenas um quilômetro uma da outra.
Lewis é o maior especialista em detritos espaciais da Europa. Ele faz estimativas regulares da situação da órbita terrestre com base em informações do banco de dados SOCRATES (Satellite Orbital Conjunction Reports, que avalia encontros ameaçadores no espaço). A ferramenta fornece informações sobre as órbitas de satélites e modela suas trajetórias futuras para avaliar o risco de colisão. Em entrevista ao site Space, ele demonstrou estar preocupado com o futuro.
"Eu olhei os dados que remontam a maio de 2019, quando o Starlink foi lançado pela primeira vez, para entender o peso dessas megaconstelações. Desde então, o número de encontros obtidos pelo banco de dados do Sócrates mais do que dobrou, e agora estamos em uma situação em que o Starlink é responsável por metade de todos os encontros", disse Lewis.
Os 1.600 "quase encontros" semanais incluem aqueles entre dois satélites Starlink. Sem eles, os satélites da SpaceX se aproximam das espaçonaves de outros operadores espaciais cerca de 500 vezes por semana.
Na atualização de julho das conjunções envolvendo as constelações de satélites Starlink & OneWeb, conforme previsto pelo SOCRATES, houve um aumento contínuo (exponencial) no número de passagens próximas em 2 de agosto de 2021.
Em comparação à Starlink, o concorrente OneWeb, que atualmente tem mais de 250 satélites em órbita, está envolvido em cerca de 80 passagens próximas a satélites de outras operadoras todas as semanas, de acordo com dados de Lewis.
E a situação tende a piorar: apenas 1.700 satélites Starlink foram colocados em órbita até o momento — eles fazem parte de uma constelação futura de dezenas de milhares. A primeira geração deve totalizar 12.000 satélites. Lewis estima que no futuro os satélites da SpaceX estarão envolvidos em 90% das abordagens próximas.
Um futuro de congestionamento espacial
Satélites Starlink vistos da Terra.Fonte: SpaceX/Divulgação.
Siemak Heser, CEO e cofundador da Kayhan Space de Boulder (Colorado, Estados Unidos), confirma a tendência. Ele estima que, em média, um operador que cuida de cerca de 50 satélites receberá até 300 alertas oficiais de conjunção por semana. Esses alertas incluem encontros com outros satélites ou destroços. "Desses 300 alertas, até dez exigiriam que os operadores realizassem manobras de evasão", afirmou Heser ao Space.
Segundo ele, o tamanho do catálogo deve aumentar dez vezes no futuro próximo. E quanto mais objetos nesse catálogo, mais encontros perigosamente próximos. “Este problema está realmente ficando fora de controle”, disse Hesar. "Os processos que estão em vigor são muito manuais, não escalonáveis e não há compartilhamento de informações suficiente entre as partes que possam ser afetadas se ocorrer uma colisão", disse o empresário.
Apesar das preocupações, até o momento, apenas três colisões orbitais foram confirmadas. A pior delas, em fevereiro de 2009, foi a colisão entre o satélite de telecomunicações americano Iridium 33 e o extinto satélite militar russo Kosmos-2251. O incidente gerou mais de 1.000 pedaços de destroços maiores que 10 centímetros — muitos desses envolvidos em outros incidentes orbitais.
Lewis acredita que, com o aumento do número de passes próximos, o risco de os operadores em algum ponto tomarem uma decisão errada também aumentará. Ele está preocupado com a crescente influência de um único ator — Starlink — na segurança das operações orbitais: "Eles só fazem isso há dois anos, então há uma certa quantidade de inexperiência", disse o pesquisador.
Atualmente a SpaceX depende de um sistema autônomo de prevenção de colisões para manter sua frota longe de outras espaçonaves. “O Starlink não divulga todas as manobras que está fazendo, mas acredita-se que eles estão fazendo uma série de pequenas correções e ajustes o tempo todo”, explicou Lewis. "Isso causa problemas para todo mundo, porque ninguém sabe onde o satélite estará e o que fará nos próximos dias", encerrou.
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