Um equipamento conhecido como “pâncreas artificial”, que utiliza uma inteligência artificial, teve a eficácia comprovada para controlar os níveis de glicose de forma segura em estudo realizado por cientistas das universidades de Cambridge, da Inglaterra, e de Berna, na Suíça.
A pesquisa foi publicada na revista científica Nature Medicine no início deste mês.
Essa foi a primeira vez que o equipamento foi testado em pacientes com diabetes tipo 2. A condição é mais comum em pessoas com mais de 40 anos, acima do peso e sem hábitos saudáveis de alimentação. O tipo 2 corresponde a 95% dos casos de diabetes no mundo.
A doença manifesta-se apenas em pessoas geneticamente suscetíveis. Dessa forma, ter familiares com a doença é um fator de risco. Contudo, segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, o número de casos vem crescendo por conta do aumento do sedentarismo e da piora dos hábitos alimentares, que levam ao excesso de peso e obesidade.
Diabetes do tipo 2 tem influência genética, mas hábitos alimentares podem contribuir para o ocorrência da doença (Fonte: Pixabay/RitaE/Reprodução)Fonte: Pixabay/RitaE/Reprodução
O “pâncreas artificial” é um equipamento portátil que simula a função do órgão humano no controle dos níveis de glicose no sangue. O dispositivo utiliza uma inteligência artificial para injetar insulina no organismo sob medida e de forma automática.
O sistema, usado externamente ao corpo, é composto por dois dispositivos vestíveis: um sensor de glicose e uma bomba de insulina. Um aplicativo de smartphone envia, por Bluetooth, um sinal para a bomba ajustar o nível de insulina que o paciente recebe. O sensor de glicose mede e envia os níveis de açúcar no sangue de volta a um algoritmo que permite realizar ajustes adicionais.
Uma das principais funções do pâncreas é a produção de hormônios, como a insulina, que é capaz de regular a glicose no sangue. No diabetes tipo 2, o órgão produz insulina em quantidade insuficiente.
"Pâncreas artificial" é um sistema que tem três componentes: um sensor, uma bomba de insulina e um aplicativo de celular (Fonte: Universidade de Cambrigde/Divulgação)Fonte: Universidade de Cambrigde/Divulgação
Entre outubro de 2019 e novembro de 2020, os pesquisadores acompanharam 26 pacientes que realizavam diálise. Metade foi tratada com o "pâncreas artificial", e a outra teve o tratamento tradicional com insulina. A equipe acompanhou a evolução do nível de açúcar de sangue por um período de 20 dias.
O pâncreas artificial proporcionou aos pacientes cerca de 3,5 horas diárias a mais na faixa-alvo em comparação ao tratamento tradicional. O equipamento também manteve os níveis médios de glicose por mais tempo, reduzindo o período em que os pacientes passaram em hipoglicemia.
A adaptação proporcionada pela inteligência artificial melhorou o desempenho ao longo do tempo. No primeiro dia, o tempo em que o açúcar no sangue ficou na faixa-alvo foi de 36% de açúcar, enquanto o índice subiu para mais de 60% no vigésimo.
A pesquisa se concentrou em pacientes que tinham também insuficiência renal, pois a condição dificulta o controle de açúcar. Cerca de 30% dos casos de doença renal são causados pelo excesso de glicose no sangue.
Por sua vez, o mau funcionamento dos rins dificulta a “limpeza” do sangue e aumenta o risco de hipoglicemia e hiperglicemia, níveis muito baixos ou altos de açúcar, que podem causar complicações desde tonturas, quedas, e até coma.
O controle do diabetes em pacientes com insuficiência renal representa um desafio para pacientes e profissionais de saúde, pois muitos aspectos dos cuidados são mal compreendidos, como as metas para os níveis de açúcar no sangue.
Além disso, grande parte dos medicamentos orais para diabetes não podem ser utilizados por pessoas com doenças renais, que precisam de injeções de insulina, cuja dosagem exata é difícil de estabelecer.
Pacientes aprovam "pâncreas digital", mas relatam desconforto com a bomba de insulina. (Fonte: Universidade de Cambrigde/Divulgação)Fonte: Universidade de Cambrigde/Divulgação
Os participantes da pesquisa aprovaram a tecnologia. Mais de 90% relataram que gastaram menos tempo controlando seu diabetes com o "pâncreas artificial". Contudo, também foram relatadas desvantagens como o desconforto ao usar a bomba de insulina e a necessidade de carregar o smartphone.
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