Não apenas o volume e a espessura da substância cinzenta no cérebro (os corpos dos neurônios), como a integridade e função da substância branca (axônios mielinizados) nos córtices temporais, frontais e parietais, têm relação com a inteligência.
A inteligência tem grande participação genética, um percentual de genes que produzem proteínas funcionais está implicada em várias funções neuronais, incluindo função sináptica e plasticidade, interações celulares e metabolismo energético.
Há uma expressão de genes associados aos neurônios principais do córtex e mesencéfalo — neurônios piramidais e espinhosos médios. Estudos indicam que pode existir relação da função e a estrutura da célula piramidal com a inteligência humana relativo ao tamanho dendrítico e velocidade do potencial de ação e o QI.
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A integridade de múltiplos tratos de substância branca no fascículo uncinado direito que conecta partes do lobo temporal com as áreas do lobo frontal é crucial para definir a inteligência, sendo comprovados danos nessa passagem em indivíduos com retardo mental e boa conexão em indivíduos com alto QI. Corroborando em resultado com o volume da substância cinzenta no lobo frontal e temporal.
Estudos de neuroimagem funcional e estrutural mostram que a inteligência geral não pode ser atribuída a uma região específica. A inteligência inclui uma rede de regiões como o córtex pré-frontal dorsolateral, o lobo parietal e o córtex cingulado anterior, múltiplas regiões dentro dos lobos temporal e occipital e os principais tratos da substância branca.
Áreas frontais e parietais têm relação com a inteligência fluída, capacidade de pensar e raciocinar de forma abstrata e resolver problemas. Por sua vez, os lobos temporais estão relacionados com a inteligência cristalizada, que envolve conhecimento que vem de aprendizagem anterior e experiências passadas, e a integridade da substância branca na velocidade de processamento que define o volume da substância cinzenta.
Como defino na inteligência DWRI, a região do lado esquerdo do córtex pré-frontal, relacionada à capacidade lógica, independente do conhecimento adquirido, que tem relação com os testes de QI, é precursora para o desenvolvimento cognitivo geral e a inteligência é o resultado também da integridade na participação de neurônios, sinapses e sua composição genética.
O córtex pré-frontal atua como uma central de distribuição de dados onde monitora e influencia as demais regiões do cérebro, a capacidade de resolver problemas de lógica em situações inusitadas independente do conhecimento adquirido já define essa região como líder intelectual e gestora de toda inteligência.
Neurônios de indivíduos com QI mais alto são capazes de traduzir entrada e saída no potencial de ação entre neurônios com maior eficácia e alcançam maior resolução de integração sináptica nas células piramidais do que indivíduos com QI mais baixo. Genes sustentam a estrutura dendrítica na capacidade cognitiva, seu tamanho tem relação com a inteligência.
Hoje temos melhores resultados e descobertas de como funciona a inteligência usando neuroimagens, estudos genéticos de GWAS, neurociência celular em tecido cerebral humano ressecado, entre outros, que revelam como funciona a inteligência humana, usando como referência indivíduos com avaliação em testes de QI.
Fazendo uma analogia; O genótipo para inteligência é a região do raciocínio lógico, o fenótipo para a inteligência é a cognição.
Fabiano de Abreu Rodrigues, colunista do TecMundo, é doutor e mestre em Ciências da Saúde nas áreas de Neurociências e Psicologia, com especialização em Propriedades Elétricas dos Neurônios (Harvard), programação em Python na USP e em Inteligência Artificial na IBM. Ele é membro da Mensa International, a associação de pessoas mais inteligentes do mundo, da Sociedade Portuguesa e Brasileira de Neurociência e da Federação Europeia de Neurociência. É diretor do Centro de Pesquisas e Análises Heráclito (CPAH), considerado um dos principais cientistas nacionais para estudos de inteligência e alto QI