A NASA está investigando a possibilidade de mudar o nome do telescópio James Webb após o surgimento de denúncias sobre o envolvimento do homenageado no "Lavender Scare", um período histórico do governo estadunidense, entre as décadas de 40 e 60, em que homossexuais foram perseguidos e demitidos de cargos federais.
Montada em maio por quatro astrônomos, a requisição já arrecadou 1.250 assinaturas, incluindo cientistas que estão na "lista de espera" para usar sucessor do Hubble. O telescópio James Webb tem lançamento programado para este ano. Segundo os envolvidos, o nome pode glorificar a intolerância e o sentimento anti-LGBTQIA+.
O telescópio será lançado em outubro e está na fase de "testes finais"Fonte: Divulgação/NASA
Brian Odom, historiador chefe do órgão, está trabalhando com outros historiadores de fora da NASA para investigar arquivos documentais sobre as políticas e ações de Webb; apenas após a revisão, a agência tomará uma decisão.
"Temos que ser transparentes com a comunidade e com o público sobre as razões das nossas decisões", disse Paul Hertz, chefe da divisão de astrofísica, em um comitê da agência em junho.
James Webb e Lavender Scare
Foto de James WebbFonte: Reprodução/NASA
James Webb foi diretor da NASA entre fevereiro de 1961 e outubro de 1968. Ele foi homenageado por balancear as prioridades da agência entre o programa espacial e a ciência. Essa moderação foi importante durante a execução do Programa Apollo, que, de acordo com o periódico científico Nature, puxava "uma boa parte" do orçamento.
Além disso, ele ficou conhecido por criar parcerias com universidades do país com a NASA University Program, que construiu laboratórios e forneceu bolsas a estudantes de graduação.
Antes de ser parte da NASA, Webb trabalhou no Departamento de Estado dos Estados Unidos na década de 40, durante o surgimento do período "Lavender Scare".
Conforme a petição, o burocrata foi Subsecretário de Estado entre 1949 e 1952 e passou uma lista de memorandos que discutia "O problema dos homossexuais e pervertidos" ao senador que liderava o movimento. Os autores apontam para registros dos Arquivos Nacionais e Administração de Documentos dos Estados Unidos.
Exemplo de relatório do Lavender ScareFonte: Reprodução/US Archives
Ainda segundo a Nature, David Jhonson, historiador da Universidade do Sul da Califórnia, que escreveu o livro The Lavender Scare em 2004, diz que não sabe de evidencias de que Webb liderou ou instigou perseguições. Webb participou em reuniões na Casa Branca sobre o movimento, mas o comitê buscava conter a histeria que membros do congresso estavam instigando.
Os autores afirmam que Webb tem responsabilidade pelas políticas discriminatórias durante o período do seu cargo. "Acreditamos que arquivos históricos falam a favor de renomear o telescópio", concluem. A petição foi publicada em uma coluna da Scientific American.