Quando o primeiro caso africano de covid-19 aconteceu no Egito, em meados de fevereiro de 2020, Steven Schiff, Professor de Engenharia da Universidade Penn State, na Pennsylvania, Estados Unidos, viu uma oportunidade para aplicar na vida real o que estava aprendendo em seus estudos: rastrear e controlar doenças infecciosas. A ideia era fornecer a países como Uganda mais informações para ajudar a orientar a política de mitigação da pandemia viral. E deu certo.
Ferramenta colaborativa ajuda na luta contra covid-19 na África.Fonte: IMAGE: PENN STATE COLLEGE OF ENGINEERING
Schiff iniciou uma colaboração entre vários países para o desenvolvimento de uma ferramenta de modelagem de vigilância que fornece uma projeção semanal de casos covid-19 esperados em todos os países africanos, com base em dados de casos atuais, população, situação econômica, esforços atuais de mitigação e detecção meteorológica de satélites. Os resultados foram publicados em 29 de junho no Proceedings of the National Academy of Sciences dos Estados Unidos (PNAS).
As projeções da ferramenta usam dados disponíveis abertamente para fornecer uma projeção de casos, bem como intervalos inferiores e superiores para ajudar o país decidir se as políticas de mitigação precisam ser implementadas ou modificadas. O sistema foi desenvolvido em parceria com a Autoridade de Planejamento Nacional de Uganda (NPA), a organização sênior do país para o desenvolvimento e planejamento econômico.
Prever para prevenir na pandemia
"Quando a pandemia de covid-19 começou, tínhamos essa equipe incomum de cientistas trabalhando arduamente para implementar o P3H na África e pensamos que podíamos contribuir muito para a luta contra esse novo vírus", disse Schiff, que fundou o Centro de Engenharia Neural da Penn State. Sua equipe inclui Paddy Ssentongo, professor assistente de pesquisa em ciências da engenharia e mecânica, natural de Uganda.
"Esta pandemia nos mostrou que precisamos colocar mais ênfase na saúde pública global — especialmente em lugares com sistemas de saúde frágeis, incluindo muitos países da África", disse Ssentongo. “Se esperarmos que as pessoas adoeçam, já estamos perdendo. O melhor que podemos fazer é prevenir”.
O estudo passou por várias disciplinas e reuniu diversos especialistas — de epidemiologistas a meteorologistas e economistas — abrangendo todos os fatores que influenciam a disseminação viral. "Reunimos uma grande equipe para lidar com o que era necessário", afirmou Schiff. "A equipe consiste em 19 pessoas em quatro países, além de muitos outros indivíduos que contribuíram por meio de discussões e suporte", acrescentou.
Dificuldades na mitigação da covid-19
Para Schiff, tão importante quanto entender o número e a localização de pessoas com casos ativos, é entender a importância do clima, da geografia e de outros fatores – especialmente em países em desenvolvimento, em que pessoas vivem e trabalham em condições mais expostas que em países industrializados.
"Você precisa de informações coletadas em tempo real sobre o vírus, como testes e bloqueios, bem como outros fatores que influenciam, como a segurança econômica variada de diferentes países e seus sistemas de saúde. Nossa estratégia sintetiza todos esses dados em toda a África para fazer projeções surpreendentemente boas do número esperado de casos com base em como esses fatores interagem e influenciam a transmissão de COVID na população", explicou o professor.
Abraham JB Muwanguzi, coautor do artigo e gerente do Departamento de Ciência e Tecnologia do NPA, também atua como o principal investigador em Uganda. Ele informa que: "Estamos trabalhando em estreita colaboração com o Ministério da Saúde para usar o modelo na análise de como as tendências da covid estão se movendo".
Ferramenta de modelagem incorpora dados variados para projetar como covid-19 pode se espalhar dentro e entre os países africanos.Fonte: Andrew Geronimo, Penn State
“Em setembro e outubro de 2020, no auge dos casos COVID, o modelo projetava um aumento nos casos transfronteiriços, levando o governo a fechar nossa fronteira. Tivemos menos casos do que o projetado porque fomos capazes de mitigar uma fonte prevista que foi bem capturado no modelo”, explicou o investigador.
A ferramenta também tem ajudado Uganda a planejar como usar seus recursos. “Por exemplo, em março e abril deste ano, o modelo projetava uma queda tremenda de casos”, disse Muwanguzi. E emendou: "Nossos centros hospitalares começaram a esvaziar — realmente havia menos casos. Poderíamos então reduzir as operações e reapropriar recursos para outras áreas de necessidade".
Os aumentos projetados ajudaram Uganda a preparar melhor seus centros hospitalares, adquirindo suprimentos suficientes e planejando para evitar a sobrecarga de hospitais e profissionais de saúde. "Esperamos que outros países da África não apenas usem esta ferramenta, mas também colaborem para garantir que estão integrando dados em termos de testes e relatórios de casos", ressaltou Ssentongo.
De acordo com Schiff, as descobertas demonstram as vantagens da cooperação entre os países no controle da pandemia e que "esta é uma crise que nenhum país pode administrar totalmente por conta própria". A ferramenta está disponível gratuitamente online.
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