A lua Encélado, de Saturno, com seu oceano subterrâneo global, é considerada por muitos cientistas como um dos melhores lugares para procurar vida fora da Terra. Uma nova pesquisa, já revisada por pares e publicada em 8 de junho na revista Nature, sugere que a existência de vida é bastante possível – e que podemos até já ter provas disso, captadas pela sonda Cassini. Uma coisa é certa: algo nesse oceano está produzindo muito metano.
Ilustração da lua Encélado feita pela Nasa. O lado externo é de gelo, com um oceano interno e fendas no polo sul.Fonte: NASA/JPL-Caltech/Reprodução
Metano é uma prova de vida?
Fonte: NASA/JPL-Caltech
Segundo os biólogos autores da pesquisa, é um forte indício. O material publicado na Nature sugere que o metano está sendo produzido de uma forma semelhante ao que fazem micróbios metanogênicos nos oceanos da Terra: biodigestão.
Os dados obtidos pela sonda Cassini, que sobrevoou Encélado várias vezes, chegando a passar pelo vapor de água em erupção que sai de fendas no polo sul da lua, que são surpreendentes. Esse vapor provém do oceano que fica abaixo da superfície externa gelada de Encélado. A sonda também encontrou partículas de gelo, sais, hidrogênio e moléculas orgânicas na atmosfera, indícios de um oceano que é semelhante aos da Terra. Também há evidências de fontes hidrotermais por lá.
E o que está produzindo o metano em Encélado?
Fonte: NASA
O novo estudo aponta que a alta quantidade de metano ainda é difícil de explicar. O processo químico provável seria a serpentinização, alteração de minerais, mas ela não seria capaz de criar tanto metano quanto foi observado. Para o principal autor do estudo, Antonin Affholder, da Escola Normal Superior de Paris, a presença de organismos metanógenos seria capaz de explicar a quantidade de metano encontrada na atmosfera de Encélado.
Esses organismos são micróbios que se alimentam de hidrogênio e dióxido de carbono, produzindo metano como subproduto. Na Terra, são encontrados em fontes hidrotermais profundas – como as que os cientistas acreditam que existem no fundo do mar de Encélado.
Os pesquisadores consideraram todos os cenários possíveis: na serpentinização, a interação de água quente e minerais nas rochas poderia criar hidrogênio. Depois, as reações químicas combinariam o hidrogênio com o dióxido de carbono, produzindo metano. Para examinar essa possibilidade, eles fizeram uma análise Bayesiana – que avalia hipóteses – em um cenário onde os micróbios estivessem envolvidos, utilizando organismos reais da Terra na comparação.
Os resultados foram surpreendentes: a quantidade de metano detectada pela sonda Cassini era significativamente maior do que a que poderia ser explicada apenas pela serpentinização. Para Affholder, a primeira hipótese foi totalmente desclassificada. Ele acredita que as quantidades de metano encontradas são compatíveis com a hipótese de condições habitáveis para metanógenos. A probabilidade maior foi a hipótese de metanogênese. Segundo o autor, "a probabilidade de vida emergir é alta o suficiente".
Banquete microbiano
Fonte: PxHere
A sonda Cassini também encontrou muito hidrogênio no oceano – que poderia ser fonte de alimento para os micróbios. Porém, havia uma quantidade maior do que o esperado para o caso de estar sendo consumido como alimento. A equipe acredita que a maioria das moléculas de hidrogênio está próxima às fendas do oceano, local que seria muito quente para os metanógenos. Para o time, os organismos poderiam estar se alimentando com moléculas de hidrogênio mais distantes das aberturas.
Outras teorias
É possível que exista um excesso de metano primordial, remanescente da formação de Encélado, borbulhando de seu núcleo. A equipe também não descarta a possibilidade de que outro processo ainda desconhecido esteja em ação. "Não sabemos a origem de Encélado nem sua idade. Não sabemos a natureza precisa do metano. Para saber mais, podemos precisar de uma missão que o examine", afirmou Affholder. Infelizmente, nenhuma missão de retorno foi planejada até o momento.
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