Cada vez mais presente nas prateleiras de dermocosméticos, nos canais digitais de influencers e em consultórios, o ácido hialurônico (AH) se tornou um hype entre os tratamentos antienvelhecimento – seja na composição de produtos como cremes, máscaras e séruns ou injetado como preenchimento diretamente na pele. Mas será que ele funciona em qualquer apresentação? Entenda a ciência por trás do queridinho do momento – e os perigos que ele pode oferecer se for mal utilizado.
O que é ácido hialurônico?
O ácido hialurônico é um polímero presente naturalmente em nosso corpo: faz parte das cartilagens, pele, olhos e mantém o desempenho do líquido sinovial nas articulações. É composto por dois açúcares: ácido glucurônico e n-acetilglucosamina. Como é carregado negativamente, tem a capacidade de se ligar às moléculas de água que estiverem por perto – até mais de mil vezes seu peso. É essa sua propriedade de reter umidade que o torna um poderoso "rejuvenescedor".
Com a idade, a presença do ácido hialurônico diminui no organismo, causando marcas de expressão como rugas – explicou a PhD em Física Teórica de Partículas Gabriela Bailas, em vídeo sobre a substância publicado em seu canal. A perda de ácido hialurônico, colágeno e elastina, resulta em perda de volume, hidratação e gordura dos tecidos, segundo artigo publicado no blog sobre Saúde da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.
Preenchimento precisa ser realizado com profissionais especializadosFonte: Freepik
Ácido hialurônico em cosméticos e consultórios
Devido à sua propriedade umectante, o ácido hialurônico têm sido amplamente utilizado em produtos cosméticos para a pele. Segundo as dermatologistas Kristina Liu e Janelle Nassim, autoras do artigo publicado pela Harvard, para saber se esses produtos realmente cumprem o que prometem, é preciso uma análise detalhada do tipo de ácido hialurônico presente no produto, já que a substância tem diferentes tamanhos moleculares.
"Moléculas maiores de AH, apesar de serem as melhores na ligação de água e hidratação, não conseguem penetrar na pele", explicaram as especialistas. Quando aplicadas como creme, as moléculas ficam no topo da pele, oferecendo hidratação apenas na superfície. "Moléculas menores, que ligam menos água, podem penetrar mais profundamente na pele", disseram. Ainda assim, o uso tópico alcança apenas a epiderme – camada mais superficial da pele.
"Para máxima hidratação da superfície, procure um produto que contenha moléculas de HA em uma variedade de tamanhos", disseram as pesquisadoras. Mas Bailas chamou atenção para o fato de que o efeito dos cremes não é duradouro e pode oferecer um "efeito placebo": os produtos não ficam na pele, apenas criam uma película temporária com capacidade de oclusão, mantendo a água por perto enquanto o creme estiver presente.
No caso dos preenchimentos dérmicos, compostos de AH em forma de gel injetável, é possível adicionar volume ao preencher fisicamente a área em que são colocados – onde vão puxar água para aumentar o efeito de preenchimento. Segundo as pesquisadoras de Harvard, eles podem levantar as bochechas, suavizar dobras e vincos mais profundos ao redor da boca e do queixo, melhorar a aparência de olheiras escuras, hidratar e realçar os lábios e rejuvenescer as mãos e lóbulos das orelhas.
Juventude eterna?
O efeito não é para sempre: segundo estudos citados por Bailas em seu vídeo, o ácido se mantém estável por aproximadamente 12 meses, podendo variar entre 8 e 18 no total. Mas para se submeter ao tratamento é preciso observar alguns cuidados, como alerta a física: cada local exige um tipo diferente do ácido e a aplicação precisa ser feita por um profissional especializado, que entenda esses pormenores. No caso do Brasil, há quatro profissionais autorizados a aplicar ácido hialurônico em consultório:
- Médicos – dermatologistas e cirurgiões plásticos;
- Biomédicos;
- Farmacêuticos;
- Cirurgiões-dentistas.
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Quais são os riscos?
Como ressaltou Bailas, nenhum produto cosmético é 100% livre de riscos na aplicação. O ácido hialurônico utilizado em produtos de beleza e cuidados com a pele vêm da biofermentação de bactérias em laboratório ou da crista de galos e pode causar reações adversas como alergia, eritema ou edema e, em casos mais graves – e raros – hematomas, infecção, formação de nódulos, cicatrizes hipertróficas e até mesmo necrose do tecido onde ocorreu a aplicação da injeção.
Como tratamento para as reações adversas, Bailas citou a hialuronidase, enzima que dissolve o produto e apresenta bons resultados – mas precisa ser aplicada nas primeiras 24 horas após a injeção do ácido na pele.
Creme ou injeção?
Segundo as acadêmicas de Harvard, o ácido hialurônico tópico nunca será tão eficaz quanto um preenchimento injetável da substância para substituir o volume perdido – "mesmo que alguns produtos sejam enganosamente comercializados como preenchimentos tópicos', afirmaram. Mas os cremes podem ser aliados: "Geralmente são bem tolerados; frequentemente não causam reações alérgicas ou irritação em pele sensível e é seguro usá-los na pele durante a gravidez e amamentação", disseram.
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