O Vietnã, frequentemente citado como exemplo de contenção do novo coronavírus, vem enfrentando um aumento exponencial no número de casos da doença. Segundo dados da Universidade Johns Hopkins foram 47 mortes e 6.396 casos registrados no país até maio – metade deles no último mês.
A quarta onda aumentou casos de Covid-19 em 30 das 63 cidades e províncias do Vietnã e pode ter relação com uma nova variante identificada no país – possivelmente um híbrido das cepas indiana e britânica.
Ciclistas em área urbana do Vietnã.Fonte: Pixabay
O ministro da Saúde do país, Nguyen Thanh Long, alertou sobre a nova mutação em comunicado. “O Vietnã descobriu uma nova variante da Covid-19 que combina características das duas existentes encontradas pela primeira vez na Índia e no Reino Unido. Ela é muito perigosa”, disse. E afirmou que a concentração de vírus na garganta e na saliva aumenta rapidamente se espalha com muita força para o ambiente próximo.
Até o momento a nova variante foi identificada em testes laboratoriais de quatro pacientes. O país tem visto o número de infecções crescer principalmente em sua zona industrial, ao norte, na cidade de Ho Chi Minh e na capital, Hanói. Para tentar deter a transmissão do vírus o Vietnã determinou lockdown de duas semanas, com início nesta segunda-feira. Restaurantes e shoppings ficarão fechados e atividades religiosas estão suspensas. Encontros devem reunir no máximo dez pessoas.
O que se sabe sobre a nova variante
Nova variante será estudada em laboratório para identificar alterações e origem.Fonte: Martin Lopez/Pexels
A desconfiança após os primeiros testes do país é de que a variante indiana B.1.617.2 tenha adquirido uma mutação parecida com a britânica, o que a tornou possivelmente mais transmissível. Novos resultados devem ser apresentados em breve. A Organização Mundial da Saúde - OMS enviou um grupo de oficiais ao Vietnã para investigar a nova cepa. De acordo com a entidade, quatro variantes já conhecidas (indiana, britânica, da África do Sul e brasileira) geram grande preocupação global.
Para o microbiologista Luiz Gustavo de Almeida, pesquisador da Universidade de São Paulo - USP e do Instituto Questão de Ciência, a mutação da cepa identificada primeiro na Índia mostra aperfeiçoamento da capacidade do vírus em infectar seres humanos. Segundo Almeida, em entrevista à CNN, a variante detectada no Vietnã é o vírus da cepa indiana que sofreu uma mutação e ficou semelhante à do Reino Unido – e não uma combinação das variantes da Índia e do Reino Unido.
"Não é que uma cepa se juntou com a outra, vírus são independentes", explicou o especialista. "O que aconteceu no Vietnã é que a cepa indiana circulava por lá e adquiriu uma mutação igual à variante do Reino Unido, uma mesma mutação que foi identificada em diferentes partes do globo", afirmou. Segundo Almeida, o fato causa preocupação porque é um forte indício de que o vírus possui uma vantagem adaptativa, "gostando cada vez mais do seu novo hospedeiro, o ser humano", disse.
Almeida destacou que, independentemente do surgimento de novas variantes do novo coronavírus, as formas de prevenção seguem as mesmas: uso de máscara, distanciamento social e higiene das mãos.
Vacinação ineficiente
Nova cepa de coronavírus do país asiático preocupa por ser potencialmente mais infecciosa. Fonte: Freepik
O Vietnã tem um número quase inexistente de vacinados: até o momento 30 mil pessoas receberam o imunizante no país, o que corresponde a apenas 0,03% da população. O Ministério da Saúde busca garantir 10 milhões de doses de vacina com o consórcio COVAX, 20 milhões de doses do imunizante da Pfizer e 40 milhões da Sputnik V, da Rússia, segundo a agência de notícias Reuters. Até o momento, o país recebeu 2,9 milhões de doses e pretende garantir 150 milhões ainda em 2021.
Fontes
Categorias