Um estudo publicado na revista Cell, no dia 22 de abril, traz esperança para portadores de Alzheimer: uma droga experimental pode aumentar a qualidade de vida e devolver autonomia para pessoas acometidas pela doença. A descoberta foi feita pelo time da pós-doutora Ana Maria Cuervo, especialista em doenças neurodegenerativas do Colégio de Medicina Albert Einstein, em Nova York, nos Estados Unidos.
Novo medicamento traz esperança para portadores de doenças degenerativas.Fonte: Pixabay
A droga experimental demonstrou reverter os principais sintomas da doença em camundongos. O medicamento funciona revigorando um mecanismo de limpeza celular que elimina proteínas indesejadas, digerindo-as e reciclando-as. A colíder da pesquisa alertou, no entanto, que as descobertas em camundongos nem sempre se traduzem em humanos, especialmente na doença de Alzheimer.
Apesar da dúvida, Cuervo afirmou à Science Daily que a queda na limpeza celular que contribui para a doença de Alzheimer em camundongos também ocorre em pessoas com essa doença. "Isso sugere que nosso medicamento também pode funcionar em humanos", ela disse.
Limpeza celular e Alzheimer
Na década de 1990, a Dra. Cuervo descobriu a existência de um processo de limpeza celular: a autofagia mediada por chaperonas (CMA). Desde então, ela já publicou 200 artigos sobre o papel do processo na saúde humana e na doença de Alzheimer.
A CMA torna-se menos eficiente à medida que as pessoas envelhecem, aumentando o risco de que proteínas indesejadas se acumulem em aglomerados insolúveis que danificam as células. Todas as doenças neurodegenerativas – entre elas o Alzheimer – são caracterizadas pela presença de agregados de proteínas tóxicas no cérebro dos pacientes.
Idosos têm diminuição no processo de limpeza celular.Fonte: Pixabay
O artigo publicado na Cell revela uma interação dinâmica entre a CMA e o Alzheimer – com a perda de CMA contribuindo para o Alzheimer e vice-versa. As descobertas sugerem que drogas aceleradoras da CMA podem oferecer esperança no tratamento de doenças neurodegenerativas.
Como o estudo foi feito?
A equipe de pesquisa analisou primeiro se a diminuição da CMA contribuía para o Alzheimer, criando um camundongo com neurônios cerebrais excitatórios sem CMA. A ausência do mecanismo causou perda de memória de curto prazo, dificuldade de locomoção e outros problemas frequentemente encontrados em roedores com a doença.
Os pesquisadores perceberam que a ausência de CMA interrompe a proteostase – capacidade das células de regular suas proteínas. Sem ela, proteínas normalmente solúveis se tornam insolúveis, logo, com risco de se reunirem em aglomerados tóxicos.
A Dra. Cuervo suspeitou que o inverso também fosse verdadeiro: o Alzheimer precoce prejudicaria a CMA. Então, ela e os seus colegas estudaram um camundongo com estágio inicial de Alzheimer que produzia cópias defeituosas da proteína tau – as evidências indicaram que cópias anormais de tau se agrupavam para formar emaranhados neurofibrilares que contribuem para o Alzheimer.
Então, a equipe se concentrou na limpeza celular dentro dos neurônios do hipocampo – região do cérebro crucial para a memória e o aprendizado – e descobriu que, nesses neurônios, a atividade de CMA foi significativamente reduzida em comparação com animais saudáveis.
Alzheimer em humanos
Os pesquisadores descobriram que o Alzheimer precoce em humanos também bloqueia a CMA, analisando o sequenciamento de RNA de neurônios cerebrais de pacientes saudáveis e também portadores da doença em diferentes estágios.
"Quando as pessoas atingem entre 70 e 80 anos, a atividade da CMA geralmente diminui cerca de 30% em comparação com quando eram mais jovens", disse a cientista. "O cérebro da maioria das pessoas pode compensar esse declínio. Mas se você adicionar doenças neurodegenerativas à mistura, o efeito sobre a composição proteica normal dos neurônios cerebrais pode ser devastador", ela explicou.
Nova droga contra o Alzheimer
A equipe desenvolveu um medicamento que revitaliza a eficiência da CMA, aumentando os níveis de um componente-chave do processo de limpeza celular: o receptor de proteína LAMP2A. Quanto mais receptores LAMP2A nas células, maior o nível de atividade de CMA. A nova droga, chamada CA, aumenta o número desses receptores.
Em todos os camundongos, doses orais de CA administradas de 4 a 6 meses levaram a melhorias na memória, depressão e ansiedade. A capacidade de locomoção também melhorou. Em neurônios cerebrais, a droga reduziu significativamente os níveis de proteína tau e aglomerados de proteína tóxica em comparação com animais não tratados. O tratamento com CA não pareceu prejudicar outros órgãos, mesmo quando administrado diariamente por longos períodos.
Fontes