Após 15 anos de medições com radar, cientistas da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), nos Estados Unidos, conseguiram determinar, de maneira mais exata, quanto tempo dura um dia em Vênus. A descoberta foi apresentada em um estudo publicado na revista Nature Astronomy, na quinta-feira (29).
Embora seja o planeta mais próximo à Terra, ficando a 41 milhões de km de distância, ele ainda guarda muitos segredos, como a duração seu do dia. Já se sabia que o dia mais longo do Sistema Solar é registrado lá, mas estudos anteriores apresentavam dados inconclusivos sobre o tema.
Com a tecnologia usada pela UCLA, foi possível medir com exatidão a duração de um dia venusiano: 243,0226 dias terrestres (5.832 horas), o equivalente a dois terços de um ano na Terra. Curiosamente, o dia dura mais do que o ano em Vênus, pois o planeta gasta 225 dias terrestres para fazer uma órbita completa ao redor do Sol.
Vênus foi o primeiro planeta explorado pela NASA.Fonte: NASA/Divulgação
“Vênus é nosso planeta irmão, mas essas propriedades fundamentais permaneceram desconhecidas”, comentou o professor da UCLA Jean-Luc Margot, que liderou o estudo. De acordo com ele, saber quantas horas existem em um dia no mundo vizinho ajuda a compreender melhor as histórias divergentes entre os dois astros.
“Bola de discoteca gigante”
Em teoria, o giro lento do planeta vizinho facilitaria a observação da sua superfície a partir da Terra, contribuindo para o trabalho dos astrônomos. Porém, a prática é bem diferente, já que ele está coberto por nuvens pesadas, inviabilizando a observação de longe, mesmo com equipamentos de ponta.
Para driblar essas dificuldades, Margot e sua equipe apontaram a gigantesca antena do Complexo de Comunicações Espaciais Goldstone, que fica no deserto de Mojave, na Califórnia (EUA), em direção a Vênus. Ela foi usada em 21 ocasiões entre 2006 e 2020 para enviar ondas de rádio ao planeta, que ricocheteavam e retornavam ao solo.
Antena do Complexo de Goldstone.Fonte: NASA/Divulgação
Alguns minutos depois, o eco destas ondas era captado na antena de Goldstone e no Observatório de Green Bank, também nos EUA. O sinal chegava primeiro a Goldstone e cerca de 20 segundos depois surgia em Green Bank, atraso que fornecia pistas sobre a velocidade de giro do planeta, segundo o artigo.
“Usamos Vênus como uma bola de discoteca gigante”, explicou Margot, referindo-se ao envio e retorno dos sinais de rádio. Ele disse ainda que as observações exigiam um posicionamento perfeito entre os dois planetas e o funcionamento correto dos equipamentos, mas isso nem sempre acontecia, atrasando a conclusão do trabalho.
Outros segredos revelados
As medições mostraram também que o tempo gasto por Vênus para completar a rotação em torno do seu eixo pode variar em pelo menos 20 minutos, por causa das mudanças constantes da taxa de rotação. Isso nunca havia sido detectado antes e pode ter contribuído para erros nas estimativas de estudos passados.
De acordo com o coautor da pesquisa, a densa atmosfera venusiana é, provavelmente, a culpada pela variação. Ela interage com a superfície durante a rotação, acelerando e diminuindo a sua velocidade, processo semelhante ao ocorrido na Terra, mas em menor intensidade, alterando a duração do dia em 1 milissegundo.
Cratera de impacto na superfície venusiana.Fonte: NASA/Divulgação
Os pesquisadores relataram ainda ter obtido dados mais exatos sobre a inclinação de Vênus, de 2,6392 graus (contra 23 graus da Terra), e disseram que as observações permitiram calcular o diâmetro do seu núcleo, de 3,5 mil km (só não foi possível descobrir se ele é sólido ou líquido).
As descobertas revelam dados primordiais para a realização de futuras missões em Vênus, facilitando o pouso das espaçonaves em locais seguros. “Sem essas medições, estamos essencialmente voando às cegas”, concluiu Margot.
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