Com a evolução da pandemia do novo coronavírus aprendemos que precisamos desinfetar superfícies, como sapatos e compras de mercado, entre outros objetos. Acontece que os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos atualizaram suas diretrizes de limpeza de superfícies na primeira quinzena de abril.
Após observar que a chance de contrair o coronavírus ao tocar em uma superfície contaminada era inferior a uma em 10 mil. Segundo os especialistas, a etiqueta respiratória é bem mais importante na prevenção de infecção pelo novo coronavírus do que a higienização de superfícies.
Uso de máscara aponta ser mais importante do que higienização de superfícies.Fonte: Pixabay
Apesar de ser possível pegar o vírus causador da Covid-19 por meio do contato com superfícies e objetos contaminados, os últimos testes mostraram que o risco de transmissão por esta rota é muito baixo, segundo afirmou Rochelle Walensky, diretora dos CDC, em entrevista ao New York Times.
Por que focamos na transmissão por superfícies?
No início da pandemia, muitos especialistas acreditavam que o coronavírus se espalhava por gotículas expelidas em processos como respiração, fala, tosse e espirros. Essas gotículas são pesadas para percorrer longas distâncias no ar, mas podem cair em objetos e superfícies – por isso era preciso limpar tudo.
No entanto, evidências coletadas ao longo de 2020 apontam que o coronavírus não se espalha apenas por gotículas grandes, mas também por partículas pequenas, os aerossóis, que podem permanecer suspensas no ar por horas.
A popularização da necessidade de higienizar objetos acabou criando uma espécie de “teatro da higiene”, termo cunhado pelo jornalista Derek Thompson para se referir a medidas ineficazes de contenção do vírus que dão uma falsa sensação de segurança. Por exemplo, um escritório que oferece álcool em gel na entrada, mas não tem ventilação adequada ou permite que as pessoas tirem suas máscaras, ainda que por curtos períodos de tempo. É o famoso “estamos seguindo todos os protocolos de segurança”.
Higienização de superfícies é mais "visual", segundo especialista.Fonte: Pixabay
Para Vitor Mori,engenheiro biomédico membro do Observatório Covid-19 BR, esse teatro acontece porque “desinfetar é mais visual” – disse em entrevista recente à BBC. O especialista, que também é pesquisador na Universidade de Virmond, afirmou que as medidas mais efetivas para combater o novo coronavírus são: ficar em casa sempre que possível; priorizar ambientes ao ar livre ou bem ventilados; manter distanciamento físico e utilizar máscaras eficientes bem ajustadas ao rosto em locais públicos.
Estamos prestando atenção na coisa errada
Shelly Miller, especialista em aerossóis da Universidade do Colorado, nos EUA, afirmou em entrevista ao jornal O Globo, que não adianta desinfetar superfícies e até mesmo pessoas, quando o problema está no ar. “Os vírus são emitidos por meio de atividades que espalham gotículas respiratórias, como falar, respirar e tossir. Além disso, sprays desinfetantes em geral são feitos de produtos químicos tóxicos que podem afetar a qualidade do ar interno e a saúde humana”, afirmou.
Ambientes fechados e mal ventilados são potenciais focos de transmissão por vias aéreas.Fonte: Pixabay
Desde julho de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) vem alertando sobre o perigo da transmissão aérea do novo coronavírus em ambientes lotados, fechados, ou mal ventilados. Em fevereiro de 2021, a entidade publicou um roteiro (disponível em inglês) para melhorar e garantir uma boa ventilação em ambientes internos no contexto da Covid-19.
A epidemiologista Adélia Marçal dos Santos afirmou à BBC que a dificuldade em admitir a transmissão aérea do vírus dificultou a contenção da doença no mundo todo. E alertou que a higienização das mãos e de produtos que serão tocados durante o preparo e ingestão de alimentos deve ser mantida, pois a prática protege não só da Covid-19, mas de diversas doenças infecciosas. No entanto, ela lembra que somente esses cuidados não são suficientes para impedir a transmissão do novo coronavírus.
Lavar as mãos com frequência continua sendo necessário.Fonte: Pixabay
"Trabalhadores estão convivendo em espaços que nunca cuidaram da segurança respiratória. A adaptação é cara – a não ser que tenhamos inovações, o que é possível – e poucas empresas terão condições (de fazer o investimento) após o impacto da própria pandemia", finaliza a epidemiologista.
Categorias