Um estudo aplicado em larga escala e publicado no dia 19 de abril pelo jornal científico online BMJ, especializado em Saúde e nutrição preventiva, indica que o uso de multivitamínicos, ômega-3, probióticos e suplementos de vitamina D pode diminuir o risco de testar positivo para o vírus SARS-CoV-2, responsável pela Covid-19. O efeito, no entanto, só foi sentido em mulheres. Também não são todos os complexos vitamínicos que apresentam bons resultados: o uso de vitamina C, zinco e suplementos com alho na composição não indicaram um menor risco de contrair o vírus.
Apesar dos suplementos vitamínicos auxiliarem o sistema imunológico, ainda não há nenhuma confirmação científica a respeito de qualquer composto que possa de fato diminuir o risco de contrair o vírus responsável pela Covid-19 – mais estudos ainda precisam ser feitos.
Como foi feita a pesquisa
Os pesquisadores utilizaram como fonte para o estudo os dados de 372.720 usuários de um aplicativo de análise de sintomas da Covid-19 disponível para adultos do Reino Unido. As informações foram fornecidas pela população durante a evolução da pandemia, desde março de 2020, quando o app foi lançado.
O aplicativo recebeu dados como localização, idade e os principais fatores de risco para a saúde de seus usuários, inicialmente. Com a evolução da pandemia, foram solicitadas também informações diárias sobre eventos relacionados à Covid-19, como sintomas, testes de detecção da doença e cuidados de saúde que estavam sendo tomados – mesmo os usuários sem sintomas foram encorajados a manter o app atualizado.
Os dados da pesquisa foram obtidos por uso de app. Maioria foi de mulheres.Fonte: Pixabay
O mecanismo utilizado pela pesquisa foi correlacionar as respostas sobre o uso de suplementos dietéticos com os resultados de testes para detecção da Covid-19 feitos pelos usuários. Os dados escolhidos para análise foram os colhidos durante a primeira onda de pandemia registrada no Reino Unido, entre maio e julho de 2020.
Um total de 175.652 usuários do app tomou suplementos regularmente, contra 197.068 que preferiram não fazer uso de polivitamínicos e afins. Cerca de 67% dos respondentes eram mulheres, mais da metade levemente acima do peso (com índice de massa corporal de 27). Ao todo, 23.521 dos participantes testaram positivo para SARS-CoV-2 durante o período estudado.
Principais resultados
Levando em conta fatores que poderiam influenciar os resultados, como condições de saúde preexistentes e a dieta habitual, a pesquisa chegou ao seguinte resultado: probióticos foram os campeões – diminuem o risco de infecção por SARS-CoV-2 em 14%; multivitamínicos ficaram em segundo lugar, diminuindo o risco em 13%; já o ômega-3 diminuiu 12% do risco, enquanto os suplementos de vitamina D baixaram em 9% o risco de infecção. Vitamina C, zinco e suplementos com alho na composição não obtiveram resultados significativos no estudo.
Analisando sexo, peso e idade da população pesquisada, a equipe chegou à conclusão de que a diminuição de risco de infecção por Covid-19 com o uso de suplementos só foi observada em mulheres. Para validar o estudo, os pesquisadores analisaram também a base de dados de usuários do aplicativo de outros dois países: 45.757 dos Estados Unidos e 27.373 da Suécia. Os resultados foram parecidos. Nos Estados Unidos, probióticos obtiveram 18% de diminuição no risco de infecção, enquanto multivitamínicos alcançaram 12%; ômega-3 obteve 21% e vitamina D 24%. Na Suécia, a diminuição de risco encontrada foi de 18% no uso de probióticos, 22% com multivitamínicos, 16% com ômega-3 e 19% com vitamina D.
Probióticos, multivitamínicos, ômega-3 e vitamina D tiveram resultados positivos.Fonte: Pixabay
Por ser um estudo de observação, não foi possível estabelecer a causa da diminuição de risco. Existem também as limitações, como o fato de o estudo se basear em dados enviados por usuários e não ter levado em conta doses ou todos os ingredientes na composição dos suplementos. No entanto, os pesquisadores observam que os efeitos deles são significativos e podem oferecer uma linha terapêutica no futuro, desde que grandes ensaios clínicos sejam realizados.
“Até o momento, há poucas evidências convincentes de que tomar suplementos nutricionais tenha qualquer valor terapêutico além de manter a resposta imunológica normal do corpo”, afirma no artigo o professor Sumantra Ray, um dos proprietários da revista online em que o estudo foi publicado, a BMJ. Ray ainda adverte para o fato de que são necessários estudos mais rigorosos antes que conclusões possam ser tiradas.
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