Segundo a Rede Análise Covid-19, um coletivo de cientistas que analisa dados da Covid-19 e têm acertado em suas previsões, os estados brasileiros estão flexibilizando as medidas de restrição de circulação cedo demais. Após o colapso presenciado em quase todas as unidades da federação no início do ano, o alerta dos pesquisadores é claro: flexibilizar agora, sem uma queda consistente no número de casos, irá aumentar novamente as infecções e deixar o país em um platô altíssimo de casos e óbitos.
Circulação de pessoas é obstáculo à queda nos casos de Covid-19 (foto tirada antes da pandemia).Fonte: Pixabay
A média atual de novos casos de Covid-19 no Brasil é de 65 mil ao dia, com óbitos diários próximos a três mil – isso em números oficiais, sem contar os casos não notificados. Já são mais de 375 mil mortos na pandemia, com a tendência de fecharmos o triste número de 400 mil mortos pela Covid-19 no Brasil ainda em abril deste ano.
Lockdown nacional
O cientista de dados Isaac Schrarstzhaupt, especializado em análise de risco para empresas e um dos coordenadores da Rede Análise Covid-19, alerta sobre a necessidade de um lockdown nacional para desacelerar a média de casos. Segundo ele, o ideal seriam três semanas de confinamento para diminuir a circulação do vírus, quebrando as cadeias de transmissão e possibilitando a saída da crise sanitária. Ele explica em entrevista à BBC a desaceleração momentânea que estamos vivenciando: "Estávamos explodindo sem freio. Fizemos restrições em vários estados e conseguimos desacelerar. Não é queda, é a velocidade de subida que reduziu", afirma.
Segundo especialista, lockdown seria forma mais eficaz de quebrar a cadeia de transmissão do vírus.Fonte: Pixabay
O que os dados dizem
Sem lockdown e com o ritmo baixo de vacinação, o número de casos e óbitos deve estabilizar em um alto nível, ao invés de desacelerar a transmissão. Funciona como na Física: a aceleração de casos está em níveis estratosféricos. Para freá-la, é preciso uma força de desaceleração, contrária ao aumento de casos: nessa situação, a restrição na circulação de pessoas.
Para realizar o cálculo, os especialistas levam em conta dados do Google de deslocamento da população, por meio do recurso de geolocalização presente nos celulares – e ao cruzar os dados, aparecem as tendências que têm se confirmado. A relação se mostra muito clara: quanto mais as pessoas circulam, mais casos da doença aparecem. Portanto, tudo leva a crer que a desaceleração que está sendo vivenciada por alguns estados não é queda, mas apenas um leve pé no freio – continuamos acelerando.
Como está a situação atual
Alguns estados já apresentam reversão da tendência de desaceleração devido à flexibilização que, segundo o cientista, é precoce. O Amazonas, por exemplo, apresentava em 11 de abril desaceleração de -36,84%. Nos últimos dez dias, ela diminuiu para -20%. Ou seja: voltou a acelerar o contágio. Já o Rio Grande do Sul deixou de consolidar a queda de -56% nos casos e nos últimos dez dias passou a cair em uma velocidade de apenas -19%.
A Bahia reabriu shoppings. No estado de Alagoas e em Curitiba, capital do Paraná que passou de 100% da ocupação de leitos de UTI no final de março, o funcionamento de bares e restaurantes com atendimento presencial voltou a ser permitido. A capital do Rio retomou horários ampliados de funcionamento para o comércio em bares, restaurantes, lanchonetes e quiosques da orla. Escolas foram reabertas, assim como em São Paulo. O Rio Grande do Sul ampliou o horário em mercados, restaurantes e bares.
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