O pequenino dinossauro Horário, das tirinhas da Turma da Mônica, é um filhote de Tyrannosaurus rex em busca de sua mãe e de seus semelhantes. Sua solidão, agora, foi quantificada: segundo o paleontólogo Charles Marshall, diretor do Museu de Paleontologia da Universidade da Califórnia, até 20 mil animais dividiram na mesma época o continente norte-americano; cerca de 2,5 bilhões desses gigantes pré-históricos andaram sobre a Terra antes da extinção.
Dos bilhões de T. rex que andaram sobre o planeta, poucos fósseis chegaram até nós.Fonte: The Conversation/Franz Anthony/Reprodução
Por anos, Marshall se perguntou se era possível calcular quantos Tyrannosaurus rex haviam vivido no período entre 1,2 a 3,6 milhões de anos que dominaram a Terra. Restaram poucos ossos desses animais, e isso era tudo o que ele e sua equipe de alunos de pós-graduação tinham – e eles souberam aproveitá-los bem.
“O projeto começou como uma brincadeira, de certa forma. Quando seguro um fóssil na mão, não consigo deixar de me perguntar sobre a improbabilidade de que essa mesma besta estivesse viva há milhões de anos, e aqui estou eu segurando parte de seu esqueleto. A pergunta não parava de surgir em minha cabeça: 'Quão improvável é isso? É um em mil, em um milhão, um em um bilhão? ' E então comecei a perceber que talvez pudéssemos realmente estimar quantos estavam vivos”, disse o paleontólogo.
Milhares de gerações
O primeiro passo foi estimar o ciclo biológico do T. rex, usando padrões microscópicos de crescimento nos ossos e estipulando que uma nova geração nascia a cada 19 anos – em 2,4 milhões de anos de existência na Terra, houve de 66 mil a 188 mil gerações. Faltava determinar quantos indivíduos existiam a cada geração.
“Em ecologia, existe uma relação entre a massa corporal e a densidade populacional, a lei de Damuth: animais maiores e com mais alto metabolismo precisam de mais espaço para sobreviver. Com boas estimativas da massa corporal do T. rex e de seu metabolismo (pouco mais baixo que o de um leão), estimamos que havia cerca de um T. rex a cada 109,9 km quadrados”, disse o paleontólogo Ashley Poust, coautor do estudo, publicado na revista Science.
Segundo ele, “multiplicando a densidade populacional pela área em que viveu o T. rex , isso nos deu uma estimativa de 20 mil indivíduos por geração”.
O próprio Marshall destaca que as incertezas no cálculo são grandes: o chamado intervalo de confiança (aquele dentro do qual há 95% de chance de que o número real esteja) é de 1.300 a 328 mil indivíduos – isso significa que o número total de T. rex que caminharam sobre a Terra varia entre 140 milhões a 42 bilhões.
Fósseis perdidos
A maneira como Marshall e sua equipe chegaram até a essa população de T. rex pode ser usada tanto para estimar populações extintas como para calcular quantas os paleontólogos podem ter perdido ao escavar fósseis.
“Com o tamanho médio da população, calculamos a taxa de fossilização do T. rex – a chance de que um único esqueleto sobrevivesse para ser descoberto 66 milhões de anos depois. A resposta: cerca de um em 80 milhões. Ou seja, para cada 80 milhões de T. rex adultos, há apenas um espécime em um museu”, disse o paleontólogo Daniel Varajão de Latorre, coautor do estudo.
Para o pesquisador, “esse número destaca o quão incompleto é o registro fóssil. Essa técnica permitirá aos pesquisadores perguntar o quão rara uma espécie poderia ser sem desaparecer inteiramente, sem deixar vestígios”.
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