Cientistas revelaram a descoberta de duas radiogaláxias — conglomerados extragalácticos que emitem feixes de radiação nas ondas de rádio do espectro eletromagnético — a vários bilhões de anos-luz de distância. Elas foram identificadas pelo telescópio MeerKAT da África do Sul, localizado na região semidesértica de Karoo, e podem fornecer pistas sobre a evolução de galáxias ao longo da história cósmica.
A origem está relacionada à interação entre partículas carregadas de energia, além de campos magnéticos, vistas no entorno de buracos negros supermassivos. Nessa atividade, elas liberam jatos de rádio que percorrem grandes distâncias no espaço, a partir da “ativação” de um buraco negro após absorver grandes quantidades de gás interestelar.
Embora a existência das radiogaláxias seja considerada rara, até o momento foram catalogadas 800 versões gigantes da classe. Essas últimas são as únicas a ter “jatos de rádio superiores a 22 vezes o tamanho da Via Láctea. Nossas novas descobertas mostraram mais de 62 vezes o tamanho da Via Láctea. No entanto, essas ondas são mais fracas do que as outras similares. Isso é o que as torna mais difíceis de ver”, escreveu a líder da pesquisa Jacinta Delhaize, no site The Conversation.
O estudo envolveu a análise de dados coletados por uma equipe composta por membros de vários países, como Reino Unido, Itália e Austrália. Para realizar o levantamento da população de radiogaláxias, eles criaram um mapa chamado de International Gigahertz Tiered Extragalactic Exploration (MIGHTEE). Assim, esperam também ajudar a entender as causas de sua expansão.
As duas radiogaláxias observadas pelo MeerKATFonte: Monthly Notices of the Royal Astronomical Society/Reprodução
Os astrônomos destacaram que a descoberta só foi possível devido a inovações em instrumentos e sensibilidade do aparelho de observação, cuja capacidade é de detectar luz tênue e difusa através de suas 64 antenas — algo até então inexistente em telescópios tradicionais. Em razão de sua importância, o MeerKAT será incorporado ao Square Kilometer Array, futuro projeto intergovernamental de radiotelescópio.
“Suspeitamos que muito mais galáxias como essas devam existir, por causa da maneira como imaginamos que elas deveriam crescer e mudar ao longo de suas vidas. E esta é uma pergunta que esperamos ajudar a responder: quantos anos têm as radiogaláxias gigantes e como elas se tornaram tão enormes?”, adicionou.
“O fato de apenas algumas delas serem gigantes sempre foi um mistério. Pensa-se que as maiores sejam as mais antigas, que existiram por tempo suficiente (várias centenas de milhões de anos) para que seus jatos de rádio crescessem para esses tamanhos. Se isso for verdade, então devem existir muito mais radiogaláxias gigantes do que as conhecidas atualmente. Saber disso é importante porque essa radiação pode evitar a formação de novas estrelas em sua galáxia hospedeira”, concluiu.
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