A origem da Amazônia, assim como das florestas tropicais modernas, pode ser uma consequência do impacto do grande asteroide que caiu na Terra no final do período Cretáceo e extinguiu os dinossauros. A conclusão é de um estudo publicado na semana passada (2), na revista Science.
Segundo os cientistas, antes de o terrível bólido de 12 km de largura atingir a península de Yucatán, no México, as florestas tropicais da América do Sul eram constituídas por um tipo de vegetação muito diferente da exuberância de plantas com flores agora existente. A floresta era “um dossel aberto com muitas samambaias, muitas coníferas e dinossauros”, diz um autor do estudo, Carlos Jaramillo.
Jaramillo e seus colegas do Smithsonian Tropical Research Institute analisaram dezenas de milhares de amostras de pólen fóssil e folhas encontradas na Colômbia, que datavam da época do período Cretáceo imediatamente anterior à colisão do asteroide, e outras amostras do período Paleoceno, posteriores à queda do asteroide.
Por que o impacto do asteroide deu origem à floresta tropical atual?
Fonte: Davide Bonadonna/ReproduçãoFonte: Davide Bonadonna
A pesquisadora-líder do projeto, dra. Mónica Carvalho, explicou à BBC que, após examinar mais de 50 mil registros de pólen fóssil e mais de 6 mil fósseis de folhas, de antes e depois do impacto, a equipe passou a trabalhar com três hipóteses diferentes.
A primeira delas propõe que os enorme saurópodes herbívoros, aqueles dinossauros pescoçudos que vemos nos filmes, poderiam ter impedido que as florestas da época se tornassem muito densas, alimentando-se ou pisoteando as plantas que cresciam nos níveis mais baixos.
Uma segunda explicação diz respeito às cinzas que caíram do céu depois do impacto. Segundo os pesquisadores, esses resíduos podem ter funcionado como uma espécie de fertilizante para criar um solo rico em nutrientes. Esse fato permitiu que a floresta se recuperasse nos seis milhões de anos seguintes.
A terceira hipótese também se refere à substituição de espécies: a extinção particular das coníferas, que deixavam áreas abertas e iluminadas pelo sol, criaram oportunidade para plantas com flores (angiospermas) tomarem o seu lugar. A partir daí, as copas das árvores se tornaram mais espessas, reduzindo a quantidade de luz solar que chegava no solo.
Importância da pesquisa
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Para a paleontologista Elena Stiles, da Universidade de Washington, em Seattle nos EUA, que não participou da pesquisa, a importância deste estudo é fornecer uma explicação abrangente do que pode ter acontecido nos ecossistemas tropicais logo após a extinção dos dinossauros. Até então, afirmou ela à revista Science, os estudos se limitavam às florestas da América do Norte e, no máximo, à Patagônia.
O estudo também responde à questão básica sobre "de onde vem toda essa diversidade" de espécies, pergunta que, conforme Stiles, era justificada pelo clima do continente ou seu isolamento de outras regiões. Portanto, colocar o evento de extinção como um dos mecanismos que moldaram esse importante ecossistema" é realmente interessante", diz a paleontologista.
Em alguns lugares estudados, afirmou Carlos Jaramillo, foi possível observar "como essa floresta que levou 66 milhões de anos para ser formada acabou em um dia". Essa taxa de desmatamento impressiona, diz ele, porque o estudo mostra a quantidade absurda de tempo que leva para reconstruir uma floresta com tal diversidade.
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