Sistema imunológico: como funciona e quais são seus inimigos?

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Depois de tanto ouvir sobre vacinas, antígenos, anticorpos e imunidade, seria oportuno falar um pouco sobre o que é e como funciona o nosso sistema imune.

O que é sistema imunológico?

A definição mais comum que temos para o sistema imune é de que ele existe para nos defender contra agentes externos ou potencialmente causadores de doenças.  Essa definição pressupõe que o sistema deva distinguir o que faz parte do seu próprio corpo (do inglês, self), bem como o que é estranho e deve ser combatido (nonself).

Aqui está o primeiro desafio para entendermos o sistema imune: ao longo de centenas de milhões de anos, animais e plantas desenvolveram um sistema para reconhecer aquilo que não conhecem? Para entenderem, seria como montar um exército para lutar como um inimigo desconhecido, sem saber a quais armas são sensíveis.

Existem grandes diferenças nos mecanismos que governam os sistemas de proteção entre animais e plantas, e mesmo entre animais mais próximos na linha da evolução. Para efeito dessa conversa, vamos considerar apenas o sistema imune dos humanos, mas vale ressaltar que muito do nosso conhecimento sobre o nosso sistema imune veio de modelos animais, em especial, dos camundongos.

Como funciona?

Antes de falar sobre o sistema imune, vamos falar do conceito de antígeno, que é qualquer substância capaz de estimular as células do sistema imune. Na grande maioria das vezes, o antígeno é uma proteína, que pode existir na porção externa ou interna de células, bactérias, vírus, etc. Mas, outras substâncias químicas também podem estimular o sistema imune, como, por exemplo, o DNA e açúcares mais complexos.

De volta ao sistema imune, a sua função principal é mais ampla do que defender o organismo do invasor, pois envolve manter o equilíbrio do nosso organismo. Nos primeiros anos de vida, nosso sistema imune passa por um processo de educação para selecionar as células efetoras da resposta imune.

Durante esse processo, todas as nossas células são apresentadas a um número (praticamente) infinito de antígenos.  As células que reagem de forma muito forte contra esses antígenos (o conceito correto é de avidez ou força da ligação com o antígeno) são eliminadas. Da mesma forma, aquelas células que não conseguem reagir contra nenhum antígeno apresentado também são eliminadas.

A ação da resposta imune

Ao final do processo de educação do sistema imune, ficamos com um repertório de células capazes de reconhecer um número quase infinito de antígenos contra os quais podemos montar uma resposta imune, seja pela produção de anticorpos ou pela ativação da resposta celular, por meio de células do sistema de defesa chamados de linfócitos T.

Aqui está a explicação para nosso desafio do “inimigo desconhecido”. Temos um repertório de células que já foram selecionadas para reagir contra as estruturas antigênicas definidas. Ao longo de nossa vida, essas células eventualmente encontrarão com essas estruturas e, uma vez estimuladas, vão proliferar, combater e eliminar a célula, o vírus ou a bactéria que carregava aquele antígeno.

Assim, ao encontrar um antígeno pela primeira vez, nosso sistema imune tem células para montar uma resposta específica. Mas criá-la demanda um tempo, que pode variar de 2 a 4 semanas. Durante esse período, a doença pode se estabelecer antes de o corpo finalizar a resposta imune.

Como as vacinas funcionam

As vacinas apresentam ao sistema imune estruturas antigênicas que o estimulam a montar uma resposta específica. Isso acelera a resposta do corpo após a exposição do organismo a um antígeno, evitando que a doença se instale.

O sistema imune reconhece o sinal como um potencial desequilíbrio, então as células são ativadas, se multiplicam e resolvem aquele sinal, gerando células de memória. Dessa forma, na próxima vez que o corpo entrar em contato com esse antígeno, ele já estará preparado e poderá responder mais rapidamente, reconquistar o equilíbrio ou amenizar a manifestação da doença.

A conclusão intrigante desse mecanismo de educação do sistema imune é que, mesmo ele nunca tendo sido apresentado, por exemplo, ao coronavírus, estruturas antigênicas das proteínas virais das vacinas são suficientemente semelhantes às estruturas antigênicas contra as quais nossas células foram treinadas durante o processo de seleção.

*Conteúdo elaborado com a contribuição da Dra. Mariane Amano, doutora em Imunologia e pesquisadora do Hospital Sírio-Libanês.

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Dr. Luiz Fernando Reis, colunista quinzenal no TecMundo, é diretor de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês, área responsável pela geração, aplicação e disseminação de conhecimento que traz valor para a sociedade brasileira e fomenta uma melhor prática de assistência à saúde. Formado em Bioquímica pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em Minas Gerais, Luiz é doutor em Microbiologia e Imunologia pela New York University School of Medicine (Estados Unidos) e pós-doutor em Biologia Molecular pela Universidade de Zurique (Suíça).

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