Dados da missão espacial Gaia sugerem que o aglomerado de estrelas mais próximo do Sistema Solar está sendo despedaçado por matéria escura, já que processos "normais" não explicam determinada ocorrência – supostamente gerada pelo campo gravitacional de algo que ainda não podemos ver. Os estragos, de acordo com os pesquisadores à frente da análise, se estendem a qualquer coisa ao alcance dos elementos desconhecidos.
A "queda de braço" entre forças internas e externas às quais uma concentração de astros é submetida faz parte do cotidiano dos conjuntos, que acabam separados em verdadeiros rios de estrelas. Entretanto, mapear os fenômenos envolve a superação de obstáculos complicados, como a mensuração detalhada das distâncias daquilo que os compõem, prejudicada por diversos fatores.
Nesse sentido, equipamentos terrestres trabalham incessantemente no fornecimento de características em três dimensões, oferecendo, assim, o maior número possível de dados, a exemplo da posição de objetos e suas velocidades. Os de Gaia fazem isso.
Graças a eles, diversas "correntes" desconhecidas de astros, incluindo "caudas" que começaram a se soltar das Híades (aglomerado em questão), sob efeito da maré de forças atuantes sobre os corpos, chegaram ao conhecimento da comunidade científica em 2019.
À esquerda, próximo à parte inferior da imagem, aglomerado Híades.Fonte: Reprodução
Na época, o achado despertou a atenção da astrônoma Tereza Jerabkova e de seus colegas da Agência Espacial Europeia e do Observatório Europeu do Sul, e todos se concentraram em expandir os parâmetros levantados a detecções anteriores, carentes de tais informações.
Com isso, a surpresa, publicada na revista Astronomy & Astrophysics: centenas de estrelas associadas ao conjunto estavam a milhares de anos-luz dali, mesmo que a região central possua somente 60 anos-luz de diâmetro.
Olhos afiados
De acordo com Jerabkova e sua equipe, mesmo frente à normalidade da presença de caudas em formações semelhantes, simulações a respeito do aglomerado sugeriam que mais estrelas deveriam estar por lá.
Intrigados, os cientistas decidiram executar mais modelos para entenderem o que poderia ter extraviado os astros, e os resultados sugeriram que este seria o resultado da interação do cluster com um objeto massivo, que teria cerca de 10 milhões de vezes a massa do Sol – ainda invisível para nós.
A título de curiosidade, a partir da identificação de efeitos gravitacionais, pesquisadores estimam que 80% de toda a matéria do Universo seja a tal matéria escura, parte essencial da formação de galáxias e, por sua vez, reunida, também, em grandes aglomerados.
Por exemplo, mesmo a Via Láctea, com seus 1,9 milhão de anos-luz de diâmetro, possuiria 'halos escuros' estendidos a seu redor – contendo, em si, conjuntos próprios, meros vagantes.
"A forma como vemos a Via Láctea mudou completamente", comemora Tereza – indicando que pesquisas futuras podem se concentrar nessas interrupções de estrelas nas caudas de clusters, afinal, ofereceriam pistas importantes a respeito do assunto e, de quebra, revelariam, quem sabe, o que, de fato, as causa.
"Seremos capazes de mapear estruturas dos melhores jeitos vistos até então", finaliza a astrônoma.
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