Em mais um capítulo da guerra entre o coronavírus e a humanidade, dois novos estudos divulgados nesta semana revelaram que cães e gatos podem ter sido infectados pela variante B.1.1.7 do Sars-CoV-2, detectada pela primeira vez no Reino Unido em setembro de 2020 e hoje presente em diversos países do mundo.
Embora não haja confirmação científica dos detalhes, existem fortes indícios de que o vírus causador da covid-19 tenha provocado algumas condições cardíacas em animais domésticos parecidas com alguns sintomas experimentados por seres humanos. É a primeira vez que uma das variantes do coronavírus é observada fora de humanos.
Coincidentemente, foi no Reino Unido que ocorreram infecções de animais de estimação com a variante B.1.1.7. Também no Reino Unido registrou-se, em dezembro de 2020, um aumento de casos de miocardite, uma inflamação do tecido do coração, entre cães e gatos, cuja incidência saltou de 1,4% para 12,8%.
Apesar desses números, os dois estudos não conseguiram comprovar cientificamente a hipótese de que a variante do Sars-CoV-2 seja a responsável pelos comprometimentos cardíacos dos animais, nem que seja mais transmissível ou mais perigosa em gatos e cachorros.
O estudo de Londres
Fonte: Kukota/Bigstock/ReproduçãoFonte: Kukota/Bigstock
Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisa para o Desenvolvimento Sustentável da França relataram os primeiros casos de infecção de cães e gatos domésticos pela variante do Reino Unido B.1.1.7 do Sars-CoV-2 diagnosticados em uma clínica veterinária de Londres, especificamente os internados na unidade de cardiologia.
Ao todo, sete animais fizeram o teste de reação em cadeia da polimerase (PCR) e três deles deram positivo para o coronavírus com a variante B.1.1.7, segundo o estudo publicado no repositório aberto de pré-publicação bioRxiv, na quinta-feira (18). Dos quatro animais restantes, dois revelaram anticorpos característicos de que já haviam se infectado com o vírus.
Um dos autores do estudo, o virologista Eric Leroy afirma que não está claro se as taxas de infecção entre humanos e animais, ou vice-versa, são mais altas do que as da cepa original. Para o pesquisador, não é possível afirmar que animais de estimação desempenham um papel mais sério na pandemia, mas “essa hipótese tem que ser seriamente levantada”.
O estudo do Texas
Fonte: Ariana Drehsler/AFP/Getty Images/ReproduçãoFonte: Ariana Drehsler/AFP/Getty Images
Também nesta semana, pesquisadores da Texas A&M University detectaram a variante B.1.1.7 em um gato e um cachorro de uma mesma residência no condado de Brazos, nos EUA. Assim como os proprietários de cinco pets no Reino Unido, também o dono da casa no Texas havia sido diagnosticado com covid-19 antes de os animais desenvolverem as manifestações.
Os sintomas dos dois animais não estavam presentes no momento da testagem, porém ambos começaram a espirrar algumas semanas depois. Logo depois, recuperaram-se completamente, assim como os animais do Reino Unido, onde apenas um gato teve que ser sacrificado após apresentar uma recaída.
A microbiologista Shelley Rankin, da Universidade da Pensilvânia, explicou que os pesquisadores revelaram somente uma correlação entre a infecção pela variante B.1.1.7 e a miocardite, mas outras causas podem também ter sido responsáveis pela doença.
Avaliando os dois estudos, o veterinário Scott Weese, da Universidade de Guelph, no Canadá, alerta que nem o estudo do Texas e nem o do Reino Unido deveriam ser vistos como ameaça de que animais de estimação colocaram seus donos em perigo. Para ele, o que ocorre é o contrário: “se o meu cachorro está com ele [o vírus], provavelmente o herdou de mim”.
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