As tempestades de poeiras de Marte podem ser responsáveis pela luz zodiacal, misterioso brilho no céu noturno da Terra. O fenômeno é um feixe de luz solar refletida por uma névoa de minúsculas partículas em direção ao planeta, ocasionalmente visível após o anoitecer e pouco antes do amanhecer ao longo do plano da eclíptica, faixa onde encontram-se as Constelações do Zodíaco.
Uma equipe de cientistas da missão Juno foi responsável pela descoberta, publicada na revista científica Journal of Geophysical Research: Planets. Um instrumento a bordo da nave da NASA detectou por acaso os pequenos fragmentos em contato com a estrutura da sonda espacial, durante sua jornada rumo a Júpiter.
Os grãos de poeira se chocaram a uma velocidade de cerca 16 mil km/h, o que resultou em lascas submilimétricas em determinados pedaços de painéis solares, mas sem danos graves. “Mesmo que estejamos falando sobre objetos com apenas uma baixa quantidade de massa, eles têm um impacto terrível”, disse Jack Connerney, líder do projeto.
Essa observação ocorreu após um magnetômetro, originalmente composto por câmeras para determinar a orientação de Juno no espaço e reconhecer padrões de estrelas, registrar imagens desconhecidas de objetos celestes. O aparelho foi projetado por John Jørgensen, professor da Universidade Técnica da Dinamarca e envolvido na pesquisa.
Luz zodiacal vista em Utah, Estados Unidos, no começo de marçoFonte: NASA/Reprodução
Dessa forma, os cientistas ficaram surpreendidos com a nova capacidade da sonda, se tornando o maior e mais sensível detector desse tipo de detritos espaciais. “Cada fragmento que rastreamos registra o impacto de uma partícula interplanetária, permitindo-nos compilar uma distribuição de poeira ao longo do caminho de Juno”, disse Connerney.
Para auxiliar no estudo, a equipe da missão desenvolveu um modelo computacional para prever a luz refletida pela névoa de poeira, dispersa pela interação gravitacional com Júpiter, responsável por seu espalhamento. Tal ação depende de sua inclinação para a eclíptica e sua excentricidade orbital.
Quando os pesquisadores conectaram os elementos orbitais de Marte, a distribuição previu com precisão a assinatura reveladora da variação da luz zodiacal perto da eclíptica. Eles afirmam que a névoa de poeira termina na Terra, pois a gravidade do planeta atrai todas as pequenas partículas. “Essa é a poeira que vemos como luz zodiacal”, destacou Jørgensen. Já a borda externa da camada brilhante se estende um pouco além de Marte.
Isso porque a gravidade de Júpiter atua como uma barreira, a qual impede que os detritos se espalhem para o espaço profundo. Tal influência é responsável por uma órbita quase circular das poeiras ao redor do Sol. “O único objeto que conhecemos em uma órbita com essa característica é Marte, logo, pensamos que essa deve ser a fonte do fenômeno”, apontou.
Apesar das evidências da influência das pequenas partículas do Planeta Vermelho na luz zodiacal, os cientistas ainda não sabem explicar os motivos que permitem sua saída da superfície marciana. Contudo, a agência espacial destaca que o desenvolvimento da temática poderá auxiliar engenheiros a projetar materiais para naves, visando suportar melhor os impactos no espaço.
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