Uma pesquisa recentemente publicada na revista científica Nature Ecology and Evolution indica que as queimadas frequentes ameaçam os ecossistemas e a capacidade das florestas de armazenar dióxido de carbono. Segundo os resultados divulgados, algumas regiões não se recuperam de incêndios que ocorrem com frequência ao longo dos anos.
A análise, liderada pelo pesquisador Adam Pellegrini do Departamento de Ciências Vegetais da Universidade de Cambridge, levou em consideração evidências recolhidas ao longo de décadas. Através do vasto banco de dados, a equipe mapeou os danos sofridos por regiões com incêndios anuais e as mudanças ao longo de 50 anos. Entre eles, está uma alarmante redução na quantidade de árvores, que atingiu 72%. Em regiões com incêndios menos frequentes, esse número foi de 63%.
Redução no armazenamento de CO2
Como consequência dessa diminuição drástica de área verde, está a redução da capacidade de armazenar carbono das florestas, citada anteriormente. Nesse cenário, a solução imediata é o replantio das árvores perdidas. No entanto, Pellegrini alerta que é preciso considerar alguns fatores antes de partir para a ação.
Embora as regiões mais úmidas favoreçam o crescimento de árvores, elas são mais propensas a incêndios, assim como as mais secas. As zonas que oferecem maior segurança e resistência, destaca o pesquisador, são aquelas com temperaturas moderadas. “Plantar árvores em áreas onde as árvores crescem rapidamente é amplamente promovido como uma forma de mitigar as mudanças climáticas. Mas, para serem sustentáveis, os planos devem considerar a possibilidade de mudanças na frequência e intensidade do fogo a longo prazo”, ponderou Pellegrini.
Incêndios reduzem a saúde do solo
Registro da Amazônia em chamas.
Esse não é o primeiro estudo que aborda os efeitos de longo prazo de incêndios em florestas. Análises anteriores revelaram que tais eventos reduzem o nível de nutrientes, inclusive de nitrogênio, do solo. Embora pareça algo negativo, a pesquisa publicada na revista Nature Ecology and Evolution aponta que isso pode favorecer árvores de crescimento mais lento, que são capazes de sobreviver em solos pobres.
No entanto, essas árvores tornam a recuperação das florestas mais difícil, pois retêm os nutrientes, impedindo que o solo se enriqueça e propicie o crescimento de novas mudas após um incêndio intenso.
Aumento de carbono na atmosfera
Vista superior de parte das queimadas na Amazônia.
Junto à crescente degradação de ecossistemas, os pesquisadores têm registrado aumento na quantidade de dióxido de carbono na atmosfera, impulsionada pelos incêndios que destroem 5% da superfície terrestre a cada ano, liberando CO2 equivalente a 20% das emissões anuais de combustíveis fósseis.
Esse é um problema relativamente novo. No passado, a maioria do gás liberado pelas queimadas era recapturada assim que os ecossistemas estivessem recuperados. No entanto, com a intensificação das mudanças climáticas, os eventos se tornaram menos espaçados. A título de exemplo, citamos o cenário brasileiro em 2020, que apresentou o maior número de focos de queimados da década, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
“As espécies de árvores mais tolerantes ao fogo geralmente têm crescimento mais lento, reduzindo a produtividade da floresta. Como as mudanças climáticas fazem que os incêndios florestais se tornem mais intensos e as secas mais severas, a capacidade de recuperação das florestas fica prejudicada, reduzindo sua capacidade de armazenamento de carbono”, explica o pesquisador.
O estudo, que tem financiamento do Instituto Nacional de Alimentos e Agricultura dos Estados Unidos e da Fundação Gordon e Betty More, é o mais amplo de seu gênero, com dados de 29 locais de diferentes ecossistemas divididos entre África, Austrália, Europa e América do Norte.
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