O desabamento do radiotelescópio de Arecibo, em dezembro do ano passado, parecia ter colocado fim a um dos locais mais icônicos para a ciência mundial. No entanto, os administradores do Observatório afirmam que a instalação pode se reinventar e voltar a funcionar, utilizando os outros instrumentos disponíveis.
Em entrevista ao Space.com nessa segunda-feira (8), o diretor do Observatório de Arecibo Francisco Córdova contou que a gigantesca antena parabólica, utilizada na busca por vida extraterrestre e em outras pesquisas, era “apenas” o destaque da instalação, mas não o único instrumento ativo.
Segundo o administrador, o local inaugurado na década de 1960 está acostumado a receber uma ampla variedade de experimentos, contando com equipamentos instalados perto da antiga antena e em outras áreas próximas dali, como na ilha de Culebra, também em Porto Rico.
O colapso do radiotelescópio foi em dezembro de 2020.Fonte: Universidade da Flórida Central/Divulgação
A ideia agora é se concentrar nos instrumentos remanescentes para dar continuidade ao legado científico de Arecibo, incluindo a criação de um arquivo completo com todos os dados já coletados pela parabólica, que ficarão disponíveis para pesquisa na internet, segundo Córdova.
Instrumentos que sobreviveram ao colapso
Uma antena de rádio de 12 metros é agora o principal instrumento de Arecibo, após o colapso da estrutura central. Ela foi instalada originalmente para auxiliar o telescópio principal nas pesquisas de interferometria de linha de base, usada em pesquisas de radioastronomia.
A expectativa da equipe é usá-la de maneira integrada às redes de interferometria de linha de base muito longa já existentes, aumentando o poder do equipamento. A antena também poderá funcionar individualmente, mas precisa receber um sistema de resfriamento criogênico para evitar danos.
Sistema LIDAR instalado em Arecibo.Fonte: MIT/Reprodução
Conforme Córdova, há ainda dois sistemas LIDAR disponíveis, tecnologia capaz de medir distâncias por meio de um feixe de laser. Eles podem ajudar no estudo de asteroides que passam próximo à Terra e em pesquisas relacionadas às variações do clima, por exemplo, mas um deles precisa ser reparado, pois sofreu danos após a passagem do furacão Maria, em 2017, devendo ficar pronto até o fim do ano.
Outros destaques são os sistemas de aquecimento ionosférico presentes na instalação, que servem para criar “auroras artificiais” e facilitar o estudo de tais fenômenos. Eles são compostos por seis antenas, das quais três estão de pé, uma delas danificada. Quando o acesso ao local for liberado, ela será reparada e reiniciada junto com as demais.
Observação do céu e algoritmo de busca
Fora da área do colapso do radiotelescópio, na ilha de Culebra, fica a instalação conhecida como Remote Optical Facility (ROF), que também faz parte do Observatório. Lá, o principal instrumento é uma câmera de observação do céu 24 horas por dia e sete dias por semana.
Ela funciona em conjunto com outro equipamento semelhante na área principal, alimentando um sistema de detecção de meteoros que entram na atmosfera terrestre. Uma terceira câmera do tipo será colocada na ilha porto-riquenha, para a criação de um radar de meteoros em parceria com a Universidade de Illinois (Estados Unidos).
Neste local fica uma das câmeras que observam o céu.Fonte: Observatório de Arecibo/Divulgação
A proposta de ressurgimento da instalação inclui ainda o desenvolvimento de algoritmos capazes de vasculhar dados antigos obtidos pelo telescópio principal desde o seu início. O objetivo é buscar, em meio às informações, fenômenos que podem ter aparecido nestes registros mas eram desconhecidos na época da descoberta, como exoplanetas e rajadas de rádio rápidas (FRBs).
Com essa tecnologia de automatização, os administradores esperam facilitar o trabalho de pesquisa e reunir os dados, hoje guardados em diferentes locais, criando um arquivo online completo do legado de Arecibo, que ficará armazenado na nuvem.
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