Quando Apophis (oficialmente, 99942 Apophis) estiver ao alcance dos telescópios, começará em cada observatório do planeta uma encenação que poderá salvar a Terra do aniquilamento. Sua observação será um exercício para a defesa planetária, mas como se o asteroide tivesse sido detectado agora, e não em 2004.
“O objetivo é basicamente formar uma coalizão com cientistas de todo o mundo para tentar observar esse objeto por meses”, disse ao site Space.com o cientista planetário que está coordenando o projeto de defesa da Terra Vishnu Reddy, da Universidade do Arizona.
O Apophis vai estar ao alcance dos telescópios na próxima sexta-feira (5), passando a quase 16,9 milhões de quilômetros do nosso planeta (44 vezes a distância até a Lua). É nessa data que começará o treinamento da International Asteroid Warning Network (Rede Internacional de Alerta de Asteroide, ou IAWN), quando cerca de 40 cientistas de 13 países (os inscritos no exercício) vão fingir que jamais viram o asteroide na vida, avaliando do zero se há riscos de ele nos atingir.
Essa é o terceiro exercício que a entidade organiza. Os treinamentos anteriores foram feitos com os asteroides 2012 TC4 (que tem 15 metros de diâmetro e foi visitado pela missão NEO II, que recolheu e voltou à Terra com amostras) e o sistema duplo 1999 KW4.
"O objetivo é obter novas observações como se não soubéssemos nada sobre esse objeto e tentar ver como podemos melhorar o processo e aumentar a eficiência do sistema. Qualquer pessoa que lida com cientistas sabe que isso é dificílimo: quando você faz isso em uma escala internacional, é parte diplomacia, parte ciência e parte defesa planetária", disse Reddy.
Desespero
O esforço visa refinar uma estratégia de defesa que não deve ser, obviamente, baseada no desespero. Mas a ameaça existe: em 2013, um asteroide do tamanho de um prédio de seis andares apareceu sem aviso e explodiu sobre a cidade de Chelyabinsk, na Rússia.
O Apophis, ao contrário dos asteroides descobertos por telescópios terrestres, foi identificado pelo telescópio espacial Wide-field Infrared Survey Explorer (WISE), um receptor de ondas infravermelhas da NASA para o mapeamento do cosmos. Quando seu estoque de hidrogênio se esgotou e ele não pôde mais ser resfriado, a NASA deu a ele outra missão (por isso NEOWISE): a de identificar asteroides ainda não catalogados.
Desde que foi descoberto, o Apophis vem sendo acompanhado de perto (principalmente pelo finado radiotelescópio de Arecibo). Se a maioria dos 25 mil asteroides próximos à Terra é muito pequena para causar danos, ele tem 300 metros de largura e 300 metros de altura.
Empurrado contra a Terra
Modelos baseados nas primeiras observações sugeriram uma chance de quase 3% de o Apophis colidir com a Terra em 13 de abril de 2029 (ele vai passar tão perto que poderá ser visto a olho nu quando invadir o espaço por onde circulam alguns satélites em órbita alta do planeta).
“Presumindo que não sabemos nada sobre ele e que acabamos de descobri-lo, há um risco de impacto razoável. Claro que, se você incluir as observações históricas, vai saber que ele vai se afastar, porque conhecemos sua órbita muito bem”, disse Reddy.
O alívio é real, mas não para quem estará no jogo: “Boas notícias não é o que queremos, e sim poder ver quais os efeitos de um impacto no solo. Então, em algum ponto, o treinamento se descolará da realidade e, nos modelos de computador, os cientistas empurrarão Apophis em direção à Terra.”
Para o astrofísico, a passagem do asteroide em plena pandemia de covid-19 pode ser uma oportunidade para testar a resiliência do sistema de detecção desses corpos: "Há uma quantidade razoável de redundância na defesa planetária. Mesmo se perdermos um telescópio, esperamos que a comunidade se mantenha."
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