Em um cenário caótico de lotações recordes de UTI’s, com pacientes sendo “exportados” para outros estados e morrendo no caminho, o G1 ouviu nesta terça-feira (2) um grupo de especialistas que defendem a adoção de medidas urgentes, abrangentes e coordenadas para conter a pandemia do coronavírus.
A receita, apoiada em exemplos bem-sucedidos do Reino Unido e Israel, é amarga: parar completamente o país por pelo menos duas semanas. Isso quer dizer praias e comércio fechados, toque de recolher e barreiras sanitárias em todas as cidades ainda neste mês de março.
As medidas sugeridas pelos especialistas ao G1 não são “achômetros”, mas baseiam-se em sólidos argumentos de sobrevivência:
- Sem vacinação em massa, rastreamento dos casos e aumento da testagem, o distanciamento torna-se a única maneira de conter o vírus;
- O país não irá diminuir as transmissões se cada estado adotar uma medida diferente;
- Exemplos de outros países revelaram que medidas paliativas, inferiores a 15 dias, são ineficazes;
- Quanto menos pessoas circularem, menor será a chance de o vírus "achar" sujeitos suscetíveis à infecção;
- Reino Unido e Israel só conseguiram controlar suas transmissões com uma combinação de lockdown e vacinação em massa.
O Brasil precisa ser um só
Fonte: Eraldo Peres/AP/Reprodução
Entre os experts ouvidos pelo portal de notícias, a diretora do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Vanja dos Santos, explica que o órgão colegiado que gerencia o Sistema Único de Saúde (SUS) tem cobrado de forma incessante ao governo federal, a adoção de ações unificadas desde o ano passado.
Em conjunto com outros órgãos nacionais, que integram a “Frente Pela Vida”, o CNS adotou a paralisação das atividades em todo o país como tema após o agravamento dos casos da doença em fevereiro que, mesmo com menos dias, tornou-se o segundo mês com maior número de mortes por covid-19 desde o início da pandemia.
Vanja conta que, na última reunião do comitê, realizada no último dia 23, as medidas urgentes (fechamento do comércio, praias e serviços não-essenciais; toque de recolher; barreiras sanitárias; testagem em massa) foram discutidas. Para ela, face ao caos em que vivemos, “ou paramos e fechamos tudo, ou vamos dobrar essas mais de 250 mil mortes pela covid-19” rapidamente.
Manaus: de imunidade de rebanho a matadouro
Fonte: Reuters/Reprodução
Presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, a pneumologista Margareth Dalcolmo, que se tornou um ícone da ciência brasileira nos últimos tempos, falou à BBC Brasil, reconhecendo o momento gravíssimo da pandemia em nosso país e também falando sobre o que pode ser feito já para aliviar a crise sanitária.
Dra. Margareth também defende o fechamento de muitos serviços para diminuir a circulação de pessoas e reduzir a transmissão viral. Para ela, o que mais falta no Brasil neste momento é solidariedade, "não só de todos os cidadãos, mas também de nossas autoridades políticas".
Citando Manaus, como “um paradigma de tudo aquilo que nós desejaríamos que não acontecesse”, Dalcolmo explica que já era de se esperar que a tão propalada imunidade conferida pela doença não fosse duradoura. Segundo ela, o Amazonas nunca tomou medidas drásticas como fechar escolas, comércio ou fazer lockdows, o que só se agravou “pela desídia administrativa”
Por fim, a imunologista afirma que a pandemia em Manaus revela a cruel e intolerável desigualdade social do Brasil: “quem morre no Amazonas é pobre e indígena”, diz Dalcolmo, “enquanto a classe média alta foi embora se tratar nos hospitais do Sudeste”. Qualquer medida sanitária precisa ser coerente e ter ligação com nossa questão social e nossas desigualdades, conclui.
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