Um estudo publicado na sexta-feira (19) na revista científica JAMA Network Open trouxe ainda mais preocupação para o universo da pandemia: quase um terço das pessoas com covid-19 desenvolvem sintomas persistentes até nove meses após o diagnóstico, mesmo em casos inicialmente leves.
Conduzido por pesquisadores da Universidade de Washington, o trabalho analisou informações de 177 pessoas da área de Seattle com infecções confirmadas de covid-19. Embora a população seja pequena, o acompanhamento de três a nove meses após o diagnóstico (com média de seis meses) é o tempo mais longo já efetuado nos EUA.
A maioria dos participantes, 150 pessoas ou 85% do grupo de estudo, tiveram um caso leve de covid-19 e não precisaram ser internados; 11 participantes (6%) eram assintomáticos e 16% foram hospitalizados. Os resultados mostraram que 32,7% dos pacientes com casos leves e 31,3% dos hospitalizados relataram pelo menos um sintoma persistente que durou no mínimo três meses após o diagnóstico.
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Os sintomas persistentes da covid-19
Entre os sintomas persistentes relatados pelos participantes do estudo, os mais comuns foram fadiga (13,6 % das ocorrências) e perda de olfato ou paladar (13,6%), segundo os autores. Do total, 13% dos pacientes experimentaram outros tipos de sintomas, inclusive a misteriosa “névoa cerebral”, além de dores musculares, dificuldade para respirar e tosse.
Um total de de 51 pacientes ambulatoriais e hospitalizados (30,7%) confirmara uma piora na sua qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS) quando comparada com a linha de base avaliativa. Quatro participantes saudáveis e pacientes assintomáticos (12,5%) relataram melhora na QVRS, enquanto 14 pacientes (7,9%) reclamaram de impacto negativo em pelo menos uma atividade da vida diária (AVD).
Uma das constatações do estudo de Seattle foi “que as consequências para a saúde após a covid-9 se estendem muito além da infecção aguda, mesmo entre aqueles que apresentaram doença leve”. Dos 30% que relataram uma deterioração em sua QVRS, 8% alegaram dificuldades com as tarefas diárias, principalmente domésticas.
Os impactos no dia a dia das pessoas
Malea Anderson, que passou a sofrer de dores de cabeça, fadiga e outros sintomas após se recuperar da covid-19 (Fonte: Hart Van Denburg/Colorado Public Radio/AP/Reprodução)Fonte: Hart Van Denburg/Colorado Public Radio/AP
A autora principal do estudo, dra. Helen Chu, afirmou em um comunicado que “você pode se sair bem no início, mas depois, com o tempo, desenvolve sintomas que são bastante incapacitantes em termos de fadiga”. Segundo esta imunologista americana, a equipe pretende ainda analisar amostras de sangue de pacientes com covid-19 para esclarecer uma série de questões ainda sem resposta.
O que ainda não ficou claro para os pesquisadores é por quê algumas pessoas desenvolvem esses sintomas mais persistentes, chamados às vezes de “covid longo”. "É algum tipo de ativação imunológica, algum tipo de inflamação ou o desenvolvimento da autoimunidade?", questiona a dra. Chu.
Mesmo reconhecendo que o tamanho reduzido da amostra pode constituir uma limitação para a validade da pesquisa, os pesquisadores ponderam que "mesmo uma pequena incidência de debilidade de longo prazo pode ter enormes consequências econômicas e de saúde”, principalmente em um universo que está chegando a 63 milhões de indivíduos.
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