Uma equipe de cientistas polares descobriu criaturas misteriosas nas profundezas da plataforma de gelo Filchner-Ronne, na Antártica. A observação ocorreu ao acaso, enquanto se perfurava o local, situado no sudoeste do mar de Weddell, para coletar amostras de sedimentos. Com o uso de uma câmera GoPro, foram identificados 22 organismos em uma rocha, a 800 metros de profundidade no oceano.
A pesquisa Breaking All the Rules: The First Recorded Hard Substrate Sessile Benthic Community Far Beneath an Antarctic Ice Shelf foi comandada pela British Antarctic Survey (BAS) e publicada na revista Frontiers in Marine Science. Ela é a primeira a documentar os animais, descritos como esponjas e, possivelmente, outros invertebrados ainda desconhecidos.
A notícia surpreendeu especialistas no assunto por até então ser inédita a vida em camadas profundas. Isso porque a falta de nutrientes, em uma região sob completa escuridão e com temperaturas de -2,2 °C, dificulta as condições de manutenção de outras espécies.
Organismos em uma rocha profunda na Antártica.Fonte: British Antarctic Survey/Reprodução
“Esperávamos recuperar um núcleo de sedimento debaixo da plataforma de gelo, por isso foi uma surpresa quando batemos na rocha e vimos no vídeo que havia animais vivendo nela”, revelou James Smith, geólogo do departamento de ciência polar do Reino Unido.
“Essa descoberta é um daqueles acidentes animadores que empurram as ideias [de possibilidade de estudos] em uma direção diferente e nos mostram que a vida marinha na Antártica é incrivelmente especial”, disse em comunicado do BAS Huw Griffiths, biólogo marinho e líder da pesquisa .
“[A observação dos organismos no local] levanta muito mais perguntas do que respostas. Por exemplo, como eles teriam chegado lá? Do que se alimentam? Há quanto tempo estão escondidos? Assim, teremos que encontrar maneiras inovadoras para dar continuidade ao estudo e responder a todas as novas perguntas que tivermos”, apontou o cientista.
Plataforma de gelo de Filchner-Ronne, área do estudo.Fonte: British Antarctic Survey/Reprodução
Nesse contexto, há a sugestão de que talvez as criaturas possam ser muito antigas e detentoras de um sistema de sobrevivência avançado. Até o momento, os responsáveis pelo trabalho analisaram cerca de 200 metros quadrados na região, de um habitat composto de uma extensão superior a 1,5 milhão de quilômetros quadrados.
Como não se sabe muito sobre as origens e as composições dos organismos, Griffiths questiona o que aconteceria com as comunidades caso a plataforma de gelo entrasse em colapso. Elas também podem estar ameaçadas devido às mudanças climáticas, que acabariam com seus abrigos.
“Embora seja baseada em observações limitadas, é uma descoberta surpreendente e uma peça importante para o quebra-cabeça das esponjas antárticas”, disse César Cárdenas Alarcón, biólogo do Instituto Antártico Chileno em entrevista ao Gizmodo.
“O trabalho destaca a importância de se desenvolver pesquisas interdisciplinares para melhorar nossa compreensão dessas comunidades raras e para entender os cenários potenciais, já que se espera que o colapso das plataformas de gelo aumente à medida que o aquecimento continua afetando a Antártica”, ele completou.
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