A África do Sul decidiu suspender temporariamente o uso da vacina de Oxford/AstraZeneca em seu programa de imunização contra o novo coronavírus, conforme anúncio feito nesse domingo (7), após um estudo ainda não revisado por outros cientistas indicar que o produto tem baixa eficácia contra a variante do Sars-CoV-2 identificada no país.
O ensaio conduzido pela Universidade de Witwatersrand, na África do Sul, teve a participação de 2 mil pessoas, com metade dos voluntários recebendo o imunizante e os outros 50% sendo tratados com placebo. Apesar de nenhum deles ter desenvolvido quadro grave ou precisado de internação, os resultados do teste não foram muito animadores.
Segundo o professor de Witwatersand Shabir Madhi, líder da pesquisa, a eficácia da vacina de Oxford contra a variante sul-africana do novo coronavírus ficou abaixo de 25% em relação aos quadros leves e moderados de covid-19. A taxa é insuficiente para atender aos padrões internacionais mínimos para o uso emergencial do imunizante, de 50%, recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
A variante surgida na África do Sul é considerada mais transmissível que a original.Fonte: Rawpixel
Como a idade média dos participantes era de 31 anos, não foi possível averiguar a eficácia da vacina em relação aos casos graves da doença, uma vez que estes pacientes não fazem parte do grupo com maior risco para o desenvolvimento de quadros mais sérios da infecção.
E agora?
A divulgação dos dados preliminares do estudo, mostrando uma eficácia limitada contra a variante B.1.351 (ou 501Y.V2) do coronavírus, que se tornou dominante no país, fez o governo sul-africano suspender a aplicação de 1 milhão de doses da vacina de Oxford importadas da Índia, recebidas recentemente.
De acordo com o ministro da saúde da África do Sul Zweli Mkhize, o governo vai aguardar novas avaliações sobre os resultados do ensaio clínico e o conselho de cientistas para saber o que fará com as vacinas da AstraZeneca — o plano original era aplicá-las em trabalhadores da saúde a partir da próxima semana.
Por enquanto, o país usará imunizantes de outros laboratórios.Fonte: Pixabay
Enquanto isso, as autoridades já planejam a utilização das vacinas da Johnson e da Pfizer, que chegam ao país nos próximos dias. Mas o uso do imunizante produzido pela instituição britânica não está totalmente descartado, por ainda haver a esperança dele apresentar uma boa eficácia diante dos casos graves causados pela variante sul-africana.
A continuidade do uso da vacina inglesa também é defendida por alguns especialistas, que reforçam a necessidade de olhar para o resultado deste estudo sul-africano com uma certa cautela. Um deles é o epidemiologista e CEO da GAVI Alliance Seth Berkley, que alerta sobre o curto intervalo de aplicação do imunizante no ensaio, não permitindo construir uma resposta imune mais robusta.
Segunda geração da vacina de Oxford
Muitos dos laboratórios envolvidos na fabricação de vacinas contra o novo coronavírus já trabalham na criação de novas versões dos imunizantes, adaptadas para proteger contra as variantes do Sars-CoV-2 recém-descobertas, como a brasileira, a britânica e a própria sul-africana, consideradas mais transmissíveis.
A coordenadora do grupo de cientistas responsáveis pela vacina de Oxford/AstraZeneca Sarah Gilbert afirmou que os pesquisadores estão desenvolvendo uma segunda geração do imunizante já adaptada para combater a mutação surgida na África do Sul, devendo ficar disponível ainda este ano.
Com relação aos demais fabricantes, estudos recentes sugerem que os imunizantes da Johnson, Moderna e Pfizer/BioNTech apresentam eficácia satisfatória contra as novas variantes.
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