O distanciamento social e o lockdown adotados em várias partes do mundo, em decorrência da pandemia do novo coronavírus, afetaram as emissões de poluentes de tal forma que contribuíram para deixar o planeta um pouco mais quente em 2020. É o que aponta um estudo publicado em dezembro passado pelo Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica dos Estados Unidos (NCAR).
Conforme o levantamento, a temperatura ficou de 0,1 ºC a 0,3 ºC mais alta do que o esperado em algumas áreas durante o segundo trimestre de 2020, quando é outono no hemisfério Sul e primavera no Norte. Em lugares mais ao Norte, o aumento foi maior, chegando a 0,7 ºC.
“A poluição esfria o planeta, então faz sentido que as reduções da poluição o aqueçam”, explicou o cientista do NCAR Andrew Gettelman. Ele colocou os aerossóis, pequenas partículas transportadas pelo ar, como responsáveis pela mudança.
O impacto foi maior nos países mais industrializados.Fonte: Unsplash
Para detectar impactos tão pequenos, normalmente não identificados em medições mais amplas, os pesquisadores simularam as mudanças nas emissões de aerossóis por meio de modelos climáticos, considerando também algumas condições meteorológicas reais ocorridas ao longo do ano.
O que motivou o aumento?
Segundo a pesquisa, esse ligeiro aumento na temperatura da Terra durante a quarentena para evitar a disseminação da covid-19 foi motivado pela redução na emissão de aerossóis, que podem bloquear a luz do Sol.
Quando a quantidade destas partículas caiu, o planeta foi atingido por mais luz solar e teve as temperaturas elevadas, principalmente os países fortemente industrializados, como Estados Unidos e Rússia, conhecidos por emitir grandes quantidades de aerossol na atmosfera.
Os aerossóis são capazes de bloquear a luz solar.Fonte: Pixabay
É por isso que os impactos foram variados, dependendo da região. No hemisfério Sul, por exemplo, onde há baixa emissão de aerossóis, os efeitos acabaram não sendo tão sentidos, experimentando mudanças mínimas no clima.
Gettelman explicou também que essas partículas agem diferente de outras fontes de poluição. Enquanto os aerossóis tendem a iluminar as nuvens e refletir a luz do Sol para o espaço, as emissões oriundas de automóveis a combustão, indústrias e usinas de energia têm o efeito contrário, segurando o calor próximo à superfície.
Efeito pode ser diferente a longo prazo
“Houve um grande declínio nas emissões das indústrias mais poluentes e isso teve efeitos imediatos e de curto prazo nas temperaturas”, revela o estudo. No entanto, os cientistas ainda não sabem quais serão os impactos do lockdown na temperatura a longo prazo.
Uma das possibilidades especuladas no estudo é que em vez do aquecimento experimentado agora de maneira imediata, em um prazo maior os bloqueios provocados pela pandemia devem ajudar a desacelerar as mudanças climáticas.
A influência do lockdown no clima a longo prazo ainda precisa ser estudada.Fonte: Unsplash
Isso ocorreria devido à redução das emissões de dióxido de carbono durante a quarentena, lembrando que muitos países ainda estão com as atividades reduzidas para conter o avanço da doença, mesmo tendo iniciada a vacinação em massa. É que o CO² permanece na atmosfera por um longo tempo, tendo uma maior influência no clima.
Embora a equipe tenha demonstrado como os aerossóis contrariam a influência do aquecimento dos gases do efeito estufa, os pesquisadores alertaram que usá-los na baixa atmosfera para frear as mudanças climáticas não é uma estratégia viável, pelo menos até que eles entendam melhor as consequências da sua utilização para o ambiente e a nossa saúde.
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