O ano era 1989 e o Hubble nem havia sido lançado quando o então diretor do Instituto de Ciências de Telescópios Espaciais (STScI), Riccardo Giacconi, sugeriu a elaboração do projeto do sucessor do telescópio espacial, já que, segundo ele, grandes projetos de ciência espacial levam cerca de 20 anos para ficarem prontos. Ele errou por 11 anos: em outubro, o telescópio espacial James Webb ganhará finalmente o espaço.
Foram três décadas e US$ 8,8 bilhões para que ficasse pronto, depois de inúmeros problemas e atrasos. A fila para usá-lo está dobrando a esquina do mundo: 4.332 astrônomos de 44 países já solicitaram acesso para a primeira rodada de observações no telescópio.
O entusiasmo se justifica: o James Webb conseguirá olhar mais longe no espaço e no passado – o período de tempo compreendido entre 150 milhões a um bilhão de anos depois do Big Bang, quando começaram a surgir, das densas nuvens de hidrogênio, as primeiras estrelas se agrupando nas primeiras galáxias.
Vestígios de vida
Ao contrário do Hubble, que observa o cosmos nos espectros ultravioleta, visível e infravermelho próximo (0,1 a 1 µm), o James Webb captará uma faixa de frequência mais baixa, da luz visível de comprimento longo de onda ao infravermelho médio (0 , 6 a 27 µm), o que permitirá observar objetos com alto desvio para o vermelho, ou seja, os mais antigos e distantes.
A expansão do Universo empurra para longe estrelas e galáxias, e quanto mais elas se distanciam, mais sua luz se desloca para o vermelho – é o que acontece com a luz azul de estrelas jovens, formadas no alvorecer no cosmos.
Não apenas estrelas: além de buscar novos exoplanetas, o telescópio vai se voltar para aqueles descobertos pela missão Kepler, investigando a atmosfera desses planetas e procurando indícios de que eles podem sustentar vida como a conhecemos (ou mesmo se já o fazem).
Para conseguir captar a radiação que é emitida a até 13 bilhões de anos-luz, o James Webb será levado para uma região do espaço além da Lua, e lá permanecerá pela eternidade como um gigantesco girassol dourado.
Composto de 18 hexágonos de berílio banhados a ouro e unidos em uma superfície de seis metros quadrados, ele se ergue sobre longas pranchas –- na verdade, cinco camadas de kapton, um filme plástico de alto desempenho criado nos anos 1960 com capacidade de se manter estável em temperaturas entre -269° C a 400° C.
O escudo solar (membranas revestidas de alumínio de um lado e silício do outro), sobre o qual repousa o espelho, tem o tamanho de uma quadra de tênis e fará com que o telescópio permaneça constantemente a -223 ° C, impedindo que capte radiação do Sol, o que interferiria com aquela que vem do espaço profundo.
Em 31 de outubro, se tudo der certo, o James Webb será levado para Kourou, o Centro Espacial da Guiana, onde subirá ao espaço a bordo de um foguete Ariane 5.
Tudo ou nada
Depois de lançado a 340 km na órbita da Terra em 1990, o Hubble produziu imagens desfocadas por conta da deformação de seu espelho principal, calibrado erradamente na fase de testes.
Foram precisos três anos, uma missão de 11 dias do ônibus espacial Atlantis e 35 horas de caminhadas espaciais para consertá-lo. Desta vez, qualquer erro inutilizará o James Webb para sempre: ele estará a 1,5 milhão de quilômetros da Terra, inacessível a missões de reparos.
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