Informações publicadas na última sexta-feira (29/01) no periódico JAMA Pediatrics sugerem que pessoas infectadas com o novo coronavírus durante a gravidez podem gerar imunidade natural a seus bebês, transferindo-a por meio da placenta.
Além disso, quanto mais cedo ocorre a contaminação, maior é a quantidade de anticorpos presentes nos nenéns, de acordo com a pesquisa.Isso revela, possivelmente, o momento ideal da administração de vacinas, já que as substâncias ofereceriam mais benefícios aos bebês; quando aplicadas nos estágios iniciais da gestação.
Scott E. Hensley, professor associado de microbiologia da Escola de Medicina Perelman da Universidade da Pensilvânia e um dos principais autores do estudo, disse ao The New York Times que as descobertas são bastante consistentes com o que se sabe sobre o comportamento do organismo humano em relação a outros vírus.
De todo modo, a análise das abordagens relacionadas a programas de imunização carece, ainda, de conclusão, segundo Hensley.
Bebês recebem anticorpos de covid-19 pela placenta, mostra estudo.Fonte: Unsplash
Estendendo proteção
Mais de 1,5 mil pacientes que deram à luz no Hospital da Pensilvânia, na Filadélfia, entre abril e agosto do ano passado, passaram por exames, e 83 tinham anticorpos contra a covid-19. Desse montante, 72 bebês também testaram positivo para a presença de imunidade, independentemente de as pessoas que os geraram apresentarem sintomas.
E mais: metade das crianças tinham níveis de anticorpos tão altos quanto ou ainda maiores que os encontrados no sangue dos organismos em que se desenvolveram. Um quarto das amostras, inclusive, chegou a apresentar uma concentração de 1,5 a 2 vezes maior que a "original". "Isso é muito eficiente", indicou Karen Puopolo, professora associada de pediatria da Universidade da Pensilvânia e uma das autoras sênior do estudo.
Os anticorpos que cruzaram a placenta eram justamente aqueles que, acredita-se, oferecem proteção a longo prazo, os da imunoglobulina G, ou IgG, gerados dias após a infecção. Os relacionados à imunoglobulina M, ou IgM, por sua vez, detectados depois de uma infecção, estavam ausentes em todas as amostras, ou seja, os bebês não teriam ficado doentes.
Imunidade estaria até mais acentuada do que no organismo "original".Fonte: Unsplash
E depois?
Uma dúvida que paira no ar é se isso seria suficiente para impedir que recém-nascidos fossem infectados após o parto (e o fato de alguns deles nascerem prematuramente coloca em xeque a permanência da imunidade com o passar do tempo). Por isso, os responsáveis pela pesquisa destacam a necessidade de se replicar o método em outras instituições.
Denise Jamieson, obstetra da Universidade Emory em Atlanta e membro do grupo de especialistas em covid-19 do Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas, caracteriza a placenta como um órgão complexo e pouco estudado. Nesse sentido, Andrea G. Edlow, professora assistente de Obstetrícia, Ginecologia e Biologia Reprodutiva da Escola de Medicina Harvard, defende que a ampliação de estudos na área é fundamental para a compreensão do cenário completo.
"O que realmente queremos saber é se os anticorpos da vacina atravessam a placenta de forma eficiente e protegem o bebê, semelhante ao que ocorre na gripe e na coqueluche", destacou Jamieson.
"Pesquisas adicionais são necessárias", defendem especialistas.Fonte: Unsplash
Um olhar mais atento
Parte do desconhecimento dos mecanismos de geração de proteção em pessoas grávidas e seus bebês se deve principalmente à exclusão desse público de testes clínicos iniciais de vacinas ao redor do mundo, algo que especialistas dizem ter de mudar.
Para Mark Turrentine, também do Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas, a questão evidencia o quanto considerar esse recorte é essencial: "particularmente quando o benefício da vacinação é maior do que o risco potencial de uma doença com risco de vida", finaliza.
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