Cientistas encontraram evidências de uma população híbrida de neandertais e Homo sapiens que viveu em grupo na Europa e em partes da Ásia. No caso, a análise de dentes pré-históricos recuperados há mais de 100 anos indica que a extinção dos humanos primitivos pode ser resultado do cruzamento entre as espécies. O estudo intitulado “The morphology of the Late Pleistocene hominin remains from the site of La Cotte de St Brelade, Jersey (Channel Islands)” foi liderado por Chris Stringer e publicado na revista científica Journal of Human Evolution.
Segundo a pesquisa, os baixos níveis do mar durante a última Era do Gelo desfavoreceram condições de isolamento dos diferentes humanos e possibilitaram a migração de grupos para as Ilhas do Canal da Mancha. “Há evidências consideráveis, tanto de fósseis quanto de genomas modernos, de que o cruzamento ocorreu. Apesar da descoberta, nós ainda não sabemos as circunstâncias exatas, nem o quanto isso foi gerado pela expansão das populações humanas modernas”, explicou Stringer em comunicado do Museu de História Natural de Londres.
As amostras foram coletadas em 1910 e 1911 na caverna La Cotte de St. Brelade, na ilha de Jersey, situada no Canal da Mancha, local com vários registros da evolução humana. Foram encontrados 13 dentes, porém um deles se perdeu, devido a condições naturais de deterioração. Essas evidências então passaram por análises com métodos e ferramentas avançadas — incluindo tomografias computadorizadas.
Dentes de indivíduos híbridos encontrados em La Cotte de St BreladeFonte: Natural History Museum/Reprodução
O resultado mostra que um dos dentes era de algum tipo de animal, enquanto os restantes, de dois indivíduos, exibiam sinais de hibridização. “Encontramos as mesmas combinações incomuns de neandertais e traços humanos modernos nas amostras. Consideramos essa a evidência direta mais forte já encontrada em fósseis, embora ainda não tenhamos comprovação de DNA para apoiá-la”, disse Stringer.
“Em resumo, as raízes dos dentes parecem muito de neandertais, enquanto o pescoço e a coroa dos dentes se assemelham muito mais aos de Homo sapiens”, completou. Dessa forma, o teste final para a comprovação da teoria será submeter as evidências em análises de DNA, algo que a equipe planeja fazer no futuro.
A datação recente de sedimentos no local sugere que os dentes têm aproximadamente 48 mil anos (Paleolítico Médio), 8 mil anos antes da extinção dos neandertais. Devido ao fato de esses humanos arcaicos terem surgido há cerca de 400 mil anos, os achados em La Cotte de St. Brelade são de algum estágio avançado da espécie.
Nesse sentido, a pesquisa representa um fundamento mais plausível para a explicação da extinção dos neandertais. Outras teorias apontam que esse motivo pode ser resultado de conflitos violentos com humanos modernos, doenças ou mudanças climáticas (relacionadas à incapacidade de adaptação).
Caverna La Cotte de St BreladeFonte: Natural History Museum/Reprodução
“Claro, pode haver muitos cenários diferentes em todo o mundo neandertal que levaram ao seu desaparecimento, desde a extinção local até a absorção em populações em expansão de Homo sapiens”, disse Matthew Pope, arqueólogo envolvido no estudo.
“Aqui em La Cotte, podemos ter a chance de olhar um cenário com mais atenção, por meio de escavações detalhadas e análises científicas. O trabalho oferece um vislumbre de uma nova e intrigante população de neandertais e abre as portas para uma nova fase de descoberta”, adicionou.
“Este é um local de grande importância e continua a revelar histórias sobre os nossos antecessores. Fizemos um grande investimento para proteger La Cotte dos desafios impostos pela mudança climática, e continuamos o trabalho para encontrar financiamento para proteção adicional e pesquisa neste local antigo, onde muito mais pode ser descoberto”, disse Olga Finch, curadora do instituto de preservação histórico Jersey Heritage.
“Trabalharemos com o Jersey Heritage para recuperar novos achados e fósseis de La Cotte de St Brelade, realizar uma nova análise de programa com nossos colegas cientistas e implementar engenharia para proteger este local muito vulnerável para o futuro. Será um projeto gigantesco para o estudo dos nossos parentes evolutivos mais próximos”, completou Pope.
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