A Lua cheia sempre foi associada a vários mitos. Já foi dito que ela influencia o crescimento dos cabelos, altera o funcionamento do corpo e da mente e pode deixar os animais mais furiosos (vem daí a lenda do lobisomem), por exemplo.
Buscando esclarecer as verdades por trás de crenças como essas, estudos publicados nessa quarta-feira (27), na revista Science Advances, abordaram duas teorias muito presentes no imaginário popular.
Uma delas é a de que a Lua cheia influencia o sono, algo que no passado foi associado à luz mais brilhante dessa fase, atrapalhando as pessoas a dormir. A outra é a controversa relação dela com os ciclos menstruais, surgida das crenças de civilizações antigas.
Mitos sobre a Lua cheia existem desde a antiguidade.Fonte: Unsplash
O que a ciência descobriu sobre estas duas relações?
A Lua cheia e o sono
A pesquisa que demonstrou como os ciclos do sono parecem mudar conforme a fase lunar foi feita por cientistas das universidades de Washington e Yale, nos Estados Unidos, e de Quilmes, na Argentina. Usando dispositivos de pulso para monitorar o sono, eles acompanharam 464 estudantes de Seattle, nos Estados Unidos, e 98 integrantes de três comunidades indígenas argentinas.
Comparando os dados destes grupos, eles chegaram à conclusão que as pessoas tendem a deitar mais tarde e a dormir menos nas noites anteriores à Lua cheia. Embora o efeito seja maior nas comunidades sem eletricidade, ele também está presente nas áreas urbanas, de acordo com o estudo.
As pessoas dormem menos na noite anterior à Lua cheia.Fonte: Unsplash
Os cientistas relataram ainda que nas noites que antecedem a Lua cheia havia mais luz no céu noturno após o crepúsculo, com a Lua crescente ficando mais brilhante.
“Nossa hipótese é que os padrões observados são uma adaptação inata que permitiu aos nossos ancestrais tirar proveito dessa fonte natural de luz noturna que ocorreu em um momento específico durante o ciclo lunar”, escreveu o professor da Universidade de Washington Leandro Casiraghi, coautor da pesquisa.
Interferência no ciclo menstrual
Já o artigo que revelou a possibilidade de existir uma conexão entre os ciclos lunar e menstrual, mesmo que mínima, foi conduzido por pesquisadores da Universidade de Würzburg, na Alemanha. Eles levantaram a hipótese de o comportamento reprodutivo humano ter sido sincronizado com a Lua no passado, mas mudado com a modernidade e a maior exposição à luz artificial noturna.
A pesquisa consistiu na análise comparativa dos registros do ciclo menstrual de longo prazo de 22 mulheres, mantidos por até 32 anos, com dados do início dos ciclos menstruais abrangendo uma média de 15 anos, registrados por mulheres com idade superior e inferior a 35 anos.
Os ciclos menstruais parecem ter uma sincronia temporária com os ciclos lunares.Fonte: Freepik
O resultado mostrou que as mulheres com ciclo menstrual durando mais de 27 dias estavam “sincronizadas intermitentemente com ciclos que afetam a intensidade do luar”, principalmente nas noites de inverno, quando elas experimentavam uma exposição mais prolongada ao luar. No entanto, essa sincronia era perdida com o avançar da idade e a exposição à luz noturna artificial.
A análise apontou ainda que os ciclos menstruais se alinhavam com o mês tropical (período de 27,32 dias gastos pela Lua para passar duas vezes no mesmo ponto de equinócio) em 13,1% do tempo nas mulheres com mais de 35 anos, sugerindo que a menstruação também pode ser afetada por mudanças nas forças gravimétricas do satélite natural.
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