Remover dióxido de carbono da atmosfera pode parecer um desafio imenso, mas obstáculos ainda maiores esperam pela humanidade se ela não começar a agir de fato para reduzir a concentração do gás no meio ambiente. Por isso, pesquisas realizadas no mundo todo tentam trazer uma solução a esse problema: em artigo publicado na semana passada pelo periódico Nature Communications, cientistas sugerem que a implementação emergencial de purificadores de CO2 seria uma das técnicas que impulsionaria a empreitada. Entretanto, a ação exigiria financiamentos equivalentes aos dedicados a guerras de governos e empresas.
Por meio de uma tecnologia chamada Captura Direta de Ar (tradução livre de Direct Air Capture – DAC), sistemas mecânicos que se valem, atualmente, de um solvente líquido ou sólido capaz de separar o CO2 de outros gases, realizam a tarefa.
Exemplos de tais dispositivos são os comercializados pela empresa suíça Climeworks, que já tem 15 máquinas ativas no continente europeu. As operações são alimentadas por energia geotérmica renovável ou produzida pela queima de resíduos: um ventilador suga o ar e o passa por um coletor, dentro do qual existe um filtro que, por sua vez, direciona o poluente para o subsolo, onde é, finalmente, sequestrado.
Instalações DAC da suíça Climeworks.Fonte: Reprodução
Já a canadense Carbon Engineering, com ventiladores gigantes, captura o ar e o direciona a uma estrutura em forma de torre, na qual uma solução de hidróxido de potássio se liga quimicamente às moléculas de CO2 e as remove.
Depois, o poluente é concentrado, purificado e limpo, podendo ser injetado no solo para extração de óleo e, em alguns casos, atuando na neutralização de emissões geradas pela queima de combustíveis.
Ambas as empresas afirmam estar prontas para a produção de seus aparelhos em larga escala, e o valor potencial de mercado da tecnologia pode chegar a US$ 100 bilhões em 2030, apontam estimativas. De todo modo, uma dúvida prevalece: vale mesmo a pena?
Carbon Engineering também está no páreo.Fonte: Reprodução
Interesse mundial
Espera-se que os custos de tais dispositivos sejam, aos poucos, reduzidos, mas, nos moldes encontrados hoje em dia, além de caros em relação a alternativas estudadas, consomem muita energia. Só para se ter uma ideia, seriam responsáveis por um quarto do consumo global em 2100. Felizmente, métodos em desenvolvimento devem diminuir essas taxas nada animadoras – como os das australianas Southern Green Gas e CSIRO, que estão construindo tecnologias DAC movidas a energia solar.
O interesse de grandes companhias também pode trazer benefícios. No ano passado, a Microsoft incluiu a novidade em seus planos de carbono negativo e, conforme outras instituições forem seguindo o mesmo caminho, verbas para pesquisas adicionais poderão acelerar o surgimento de produtos mais eficazes, como as prometidas por Elon Musk.
Uma das grandes vantagens da técnica de captura de ar, defendem especialistas, é que ela demanda menos terra e água que outras, como plantar florestas ou armazenar CO2 em solos ou oceanos. Geração de empregos é outra possibilidade atrativa, atendendo às populações afetadas pelo declínio do uso dos combustíveis fósseis.
Energia solar é aposta de companhias australianas.Fonte: Unsplash
Revertendo estragos
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), organização ligada às Nações Unidas, faz um alerta: na última quarta-feira (20), a concentração de dióxido de carbono na atmosfera chegou a 415 partes por milhão (ppm), nível mais alto da história da humanidade, e ela continua crescendo.
De acordo com a entidade, a simples redução da emissão de gases já não será mais suficiente para se evitar cenários perigosos, como eventos climáticos e meteorológicos extremos, danos irreversíveis à biodiversidade e aos ecossistemas, extinção de espécies e ameaças à saúde, à produção de alimentos, à disponibilidade de água e ao crescimento econômico.
É preciso, ressalta, tomar as rédeas da situação antes que seja tarde demais.
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