Reverter o envelhecimento do cérebro é possível? Um grupo de pesquisadores da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, pode ter descoberto como realizar tal tarefa e restaurar a acuidade mental. A novidade foi descrita em um estudo publicado na última quarta-feira (20), na Nature.
Na pesquisa liderada pela professora de neurologia Katrin Andreasson, os cientistas descobriram um método capaz de reverter o envelhecimento mental em ratos idosos, partindo do pressuposto de que a inflamação é a responsável pelo processo que faz as células envelhecerem. Células humanas também foram usadas nos testes em laboratório.
Conforme explica a instituição californiana, os biólogos teorizam que reduzir tal inflamação permitiria retardar todo o processo de envelhecimento, atrasando também o surgimento de doenças associadas à idade, como Alzheimer, alguns tipos de câncer e problemas do coração, por exemplo. Até mesmo a fragilidade do corpo e o declínio cognitivo poderiam ser atrasados.
A professora de Stanford Katrin Andreasson liderou a equipe de pesquisa responsável pelo experimento.Fonte: Universidade de Stanford/Divulgação
A chave para isso estaria em bloquear o processo que leva determinadas células imunológicas a acelerar as inflamações no organismo. E foi o que os pesquisadores de Stanford conseguiram fazer, descoberta que pode levar à recuperação das habilidades mentais nos idosos, com o uso de medicamentos, caso seja confirmada.
Células mieloides
De acordo com o estudo, um tipo de célula imunológica chamada mieloide, encontrada no cérebro, tecidos periféricos do corpo e sistema circulatório, está relacionada com o envelhecimento. Além de lutar contra invasores do organismo e de limpar células mortas e demais detritos, ela fornece nutrientes para outras células e monitora patógenos.
Mas com o passar do tempo, as mieloides entram em atividade acelerada e extrapolam suas funções normais de proteção, causando inflamação e danos colaterais aos tecidos. Sabendo disso, os pesquisadores bloquearam a interação entre um hormônio específico (PGE2) e um receptor abundante nelas (EP2), evitando o início das atividades inflamatórias.
Nos animais testados, os cientistas conseguiram recuperar a acuidade mental de quando eles eram jovens.Fonte: Pixabay
Este simples bloqueio foi o suficiente para “restaurar o metabolismo juvenil e o temperamento plácido de células mieloides humanas e de camundongos”, levando à reversão do declínio mental causado pela idade nos ratos mais velhos, segundo Andreasson.
Como consequência, o procedimento permitiu restaurar a memória e as habilidades de orientação espacial dos camundongos testados a níveis comparáveis com os apresentados pelos animais mais jovens.
Testes em humanos: o próximo passo
Os cientistas testaram duas drogas experimentais na tentativa de bloquear a interação PGE2-EP2 e retardar o envelhecimento das células. Apenas uma delas foi eficaz na tarefa, mesmo não tendo penetrado na barreira hematoencefálica, demonstrando que a pesquisa pode ser promissora.
Apesar disso, eles ainda estão longe de realizar estudos clínicos com humanos, até mesmo porque esses compostos não foram aprovados para testes em pessoas, devido à chance de apresentarem efeitos colaterais tóxicos.
A descoberta pode, futuramente, levar à produção de remédios que retardariam o surgimento de doenças relacionadas à idade.Fonte: Pixabay
Uma das possibilidades é que eles sirvam de base para a produção de outros medicamentos mais seguros para futuros testes em humanos, na tentativa de verificar se a reversão do envelhecimento cerebral também é possível no homem.
Caso isso se confirme, o método pode um dia ser usado para o desenvolvimento de drogas inovadoras, capazes de retardar ou até reverter condições como Alzheimer e demência, entre outras doenças surgidas à medida que a idade avança.
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