Luzes emitidas no início dos tempos podem colocar em xeque teorias físicas atuais e mudar completamente o rumo do conhecimento humano. Dois cientistas japoneses se dedicaram a analisar o comportamento da radiação cósmica de fundo em micro-ondas (RCFM), uma espécie de ruído que permeia todo o Universo, e descobriram que a polarização dos fótons foi supostamente afetada por energia e matéria escuras, que teriam alterado ligeiramente a orientação original das partículas.
Tal alteração, explicam, só poderia ser gerada por algo que viola uma propriedade de simetria de uma função de onda, a paridade, que afirma que tudo se comporta da mesma maneira mesmo em um sistema invertido. Por exemplo, o reflexo do espelho não muda aquilo que está à frente dele, apenas reproduz as ações. No caso dessas ondas de luz e da matéria escura, a mudança de rotação não existiria se o conceito fosse aplicado.
Considerando que a paridade é mostrada por todas as partículas subatômicas e todas as forças conhecidas, exceto a chamada força fraca, que afeta todos os léptons e quarks, algo misterioso, certamente, espreita por aí.
Trajetória da luz não deveria ser diferente da original, mas é.Fonte: Reprodução
Ponto de interrogação
A RCFM foi emitida pela primeira vez há 13,8 bilhões de anos e polarizada na mesma direção. Por isso, entender como a luz mudou em sua viagem através do espaço e do tempo permite uma investigação aprofundada da história do Universo.
Medir com precisão algo do tipo, entretanto, é um desafio e tanto, uma vez que existe grande incerteza na calibração de detetores utilizados para a tarefa. Para contornar esse obstáculo, os pesquisadores se valeram de outra fonte de luz: poeira de dentro da Via Láctea – cuja emissão não teria viajado tanto nem teria sido fortemente influenciada pela energia ou matéria desconhecida.
Esperando uma rotação equivalente a zero, os cientistas tiveram, então, uma grande surpresa. A nova maneira, mais eficiente que as tradicionais, de levantar dados exibiu um valor diferente das expectativas, sugerindo uma interação inédita ocorrida no longo caminho da luz em direção à Terra – algo que não deveria ocorrer.
Objetivo, agora, é desvendar o mistério.Fonte: Reprodução
Expandindo certezas
Como toda boa pesquisa, existem dúvidas quanto à metodologia aplicada. Por exemplo, os autores atribuíram 99,2% de confiança a seus resultados; ou seja, existe uma chance de oito a cada mil de algo semelhante ser obtido por acaso. O objetivo, afirmam, é atingir uma taxa de 99,999995%, mas isso não é possível com informações obtidas por um único experimento.
Sendo assim, revisitar abordagens já existentes e elaborar técnicas inéditas que permitam mensurações mais assertivas estão nos planos Yuto Minami, físico do Instituto de Estudos de Partículas e Nucleares da Organização de Pesquisa de Aceleradores de Alta Energia no Japão, um dos autores do estudo, publicado em 23 de novembro na revista Physical Review Letters.
Minami se mantém modesto quanto ao que ele e seu colega conseguiram: "Nossos resultados não significam uma nova descoberta. Só que encontramos um indício disso", finaliza.
Fontes