Vacina chinesa é como a CoronaVac, imunizante produzido pelo laboratório Sinovac Biotech, é pejorativamente chamado pelos que descreem da eficácia de qualquer medicamento produzido na China. Para os céticos, a má notícia é que o país asiático é um dos principais fornecedores de medicamentos e insumos para a indústria farmacêutica nacional.
De onde vêm as vacinas
A maior parte das vacinas do Brasil vem da Índia, seguida de França, Indonésia, Estados Unidos, Coreia do Sul e Reino Unido — das 32 disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS), 16 são importadas.
Os laboratórios nacionais importam cerca de 90% dos chamados insumos farmacêuticos ativos. Os dois maiores fornecedores são Índia (37% dos princípios ativos, biológicos ou não) e China (35%). "Por razões econômicas e tecnológicas, o mundo todo importa insumos desses dois países", disse à BBC o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos (Abiquifi), Norberto Prestes.
Qualquer medicamento ou insumo comercializado no Brasil precisa da aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) com análise de resultados de testes fornecidos pelo fabricante e inspeção periódica das unidades de produção.
Receitas quase iguais
As vacinas geralmente têm a mesma "receita" com os seguintes componentes:
Antígeno
É a parte mais importante e característica da vacina.
Elas podem ser:
vacinas gênicas — A técnica usada replica, em uma sequência de RNA sintético envolvida em uma pequena capa de gordura (nanopartículas lipídicas), a informação genética do vírus. Esse RNA, injetado no corpo humano, é absorvido pelas células, que começam a replicar a sequência genética do vírus. Isso aciona o sistema imunológico da pessoa vacinada;
vacinas de vetores virais — Adenovírus são modificados para carregar a proteína do vírus a ser combatido e, assim, desencadear a produção de anticorpos e a resposta do sistema imunológico;
vacinas baseadas em proteínas — O imunizante carrega proteínas (inteiras ou apenas fragmentos) do vírus envoltas em capas de lipídios;
vacinas de vírus inativados ou atenuados — É o método mais antigo de produção de imunizantes, com o uso do próprio patógeno enfraquecido ou mesmo morto com produtos químicos.
Técnico inspeciona vacinas na linha de produção de Bio-Manguinhos.Fonte: Revista Pesquisa Fapesp/Léo Ramos Chaves/Reprodução
Solvente
Mesmo que seja usada somente água estéril, ela pode ter pequenas quantidades de constituintes biológicos, como proteínas e células de meios de cultura.
Conservantes, antibióticos e estabilizadores
São adicionados para evitar a proliferação de bactérias e dar estabilidade ao antígeno.
Adjuvantes
Ajudam a aumentar a resposta imunológica; o hidróxido de alumínio é o mais comum, mas substâncias à base de esqualeno (composto orgânico) já vêm sendo usadas.
Modo de preparo
O laboratório que pretende desenvolver uma vacina precisa seguir a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) n. 55 da Anvisa, que estabelece um protocolo dividido em fases, semelhante ao do Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos EUA (CDC).
Fase exploratória ou laboratorial: testes in vitro.
Fase pré-clínica: testes em animais.
Fase clínica: dividida em quatro etapas:
- ensaios de segurança (Fase 1) — Um pequeno grupo de voluntários é imunizado para testar a segurança e a dosagem da vacina e confirmar a resposta do sistema imunológico.
- ensaios expandidos (Fase 2) — Centenas de voluntários, divididos por faixas etárias, testam a reação ao imunizante e sua segurança.
- ensaios de eficácia (Fase 3) — Milhares de voluntários representativos da população a ser imunizada indicam se a vacina protege contra a doença e se há efeitos colaterais.
- acompanhamento (Fase 4) — Monitoramento da população imunizada para registro de eventos adversos.