Com o lançamento de O Gambito da Rainha na Netflix, houve uma verdadeira explosão de interesse pelo xadrez no planeta, sendo que quase 1 bilhão de smartphones, agora, contam com algum tipo do clássico jogo de tabuleiro instalado em seus sistemas (segundo a Federação Internacional de Xadrez).
Além disso, o número de pesquisas pelo termo no Google 10 dias após o lançamento da série representou o dobro dos resultados de 2019 inteiro, e o eBay registrou um aumento de 273% nas buscas pelo produto. Entretanto, uma nova modalidade do desafio está dando seus primeiros passos e só agora teve o primeiro torneio mundial dedicado a ela: o xadrez quântico. O vencedor da competição, finalizada na terça-feira passada (9), foi o pesquisador da Amazon Aleksander Kubica.
Desenvolvido por Chris Cantwell na Quantum Realm Games, Califórnia, o xadrez quântico é uma versão bem mais complicada que aquela que a inspirou. Por incorporar conceitos quânticos de superposição, entrelaçamento e interferência, "é como se você estivesse jogando em um multiverso, mas os diferentes tabuleiros [em diferentes universos] estão conectados uns aos outros", explicou o físico Spiros Michalakis, durante uma transmissão ao vivo do evento – o que torna o modelo 3D que vemos em Star Trek "algo bobo", ele brinca.
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Ao se dedicar ao desafio, conta o criador, o jogador ou a jogadora desenvolve lentamente um senso intuitivo das regras que governam o reino quântico. "Sinto que passei a compreender mais intuitivamente tais fenômenos enquanto dava vida à novidade", contou o cientista, que, na época, trabalhava em um projeto para uma aula sobre criatividade e invenção.
Aliás, a iniciativa deu tão certo que o vídeo de sua campanha para lançamento comercial acumulou mais de 8 milhões de visualizações desde 2016. Dirigido por Alex Winter (Bill, de Bill & Ted – Dois Loucos no Tempo), mostra Paul Rudd (Homem-Formiga) desafiando Stephen Hawking para um jogo de xadrez quântico – a narração ficou por conta de Keanu Reeves (o Ted do filme já citado).
Qualquer um pode jogar
Cantwell defende que não é preciso ser físico quântico para jogar o xadrez em questão e que conhecer as regras do modelo tradicional já é um bom passo. No desafio, existem vários tabuleiros, em um número não fixo, nos quais as peças existem. Além disso, é possível realizar tanto movimentos regulares quanto quânticos, bastando, para isso, que o desafiante indique qual é. Optando pela segunda ação, haverá uma superposição de tabuleiros, que dobrarão a cada ação do tipo.
Depois disso, qualquer movimento individual atuará em todos os tabuleiros ao mesmo tempo, embora os competidores vejam apenas um. Como resultado, apesar de peões se moverem de maneira convencional, outras peças podem ocupar mais de uma casa simultaneamente, dependendo da cadeia de reações geradas.
Ficou confuso? Chris ilustra: "Temos duas placas possíveis. Em um tabuleiro, a rainha não se moveu. Mas no outro lado, ela se moveu. Cada placa tem 50% de chance de 'existência'. Mostrar todas as cartas possíveis, no entanto, ficaria bastante complicado depois de apenas alguns movimentos. Portanto, a visão do jogador é um único tabuleiro. Após o movimento da rainha quântica, vê-se o seguinte:"
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"O 'preenchimento' de cada rainha mostra a probabilidade de ela se encontrar naquele espaço; a mesma rainha, existindo em diferentes locais do tabuleiro. A rainha está em uma superposição de estar em dois lugares ao mesmo tempo. No próximo turno, o jogador pode escolher mover qualquer uma de suas peças", ele explicou.
Ah, as peças também podem ser entrelaçadas, ou seja, o movimento quântico aplicado ocorrerá, efetivamente, em todos os tabuleiros, sendo esta a maneira mais fácil de ganhar – o que exige uma boa dose de medição de possibilidades para a previsão de suas reais posições. Xeque-mate? Esqueça! Afinal, o rei pode estar lá ou não.
Caso o nó tenha permanecido em sua cabeça, basta conferir o vídeo da campanha abaixo, depois de ler essa descrição nada simples.
"Sem tempo, irmão!"
Imagine o tempo levado para a finalização (se é que existe alguma) para uma única sessão dessas. Por isso, no 1° Torneio Mundial de Xadrez Quântico, os jogos foram cronometrados, e Aleksander Kubica se tornou campeão simplesmente porque Doug Strain, seu oponente da Google, esgotou suas possibilidades.
Quanto aos fãs da modalidade, Alex Winter é talvez o número 1. "Acho essa ideia de conectar fenômenos quânticos com algo que é mais compreensível e prático, ao qual as pessoas ainda se dedicam muito, realmente incrível", ele revelou em uma visita surpresa ao evento.
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