O aumento no número de internações relacionadas à covid-19 registrado em hospitais privados de São Paulo está sendo notado, também, na rede pública da cidade, indicam dados de boletins epidemiológicos municipais processados por meio de modelagem matemática e inteligência artificial – o que desperta a preocupação de especialistas.
De acordo com uma ferramenta desenvolvida por pesquisadores da Unesp e da USP, a Info Tracker, em apenas seis dias (de 7 a 13 de novembro), a taxa de ocupação de instituições municipais foi de 556 para 604 (+9%) – chegando a um crescimento de 37% na Grande SP (de 19 para 26). Além disso, houve alta de 50% tanto dos casos suspeitos quanto da taxa de aceleração de contágio, afirmam os cientistas.
Wallace Casaca, professor da Unesp e pesquisador do CeMEAI-USP (Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria), em entrevista à Folha de S. Paulo, alerta: "Não é uma pequena oscilação. É uma alta consolidada, que envolve uma análise desde agosto. Pode ser um indício de que vamos acabar emendando [uma onda de covid com outra]."
Por outro lado, Paulo Menezes, epidemiologista e professor da USP que integra o centro de contingência do governo paulista, declara não ser possível definir, ainda, se a tendência é consistente ou apenas oscilação sazonal. De qualquer modo, não descarta o pior cenário: "É possível um aumento sim e talvez seja consequência da mudança de comportamento da classe média e média alta", complementando que o fato de hospitais privados receberem pacientes de outras regiões dificulta a previsão do que pode ocorrer com a rede pública.
Tendência de aumento pode se refletir em instituições de saúde públicas.Fonte: Unsplash
Aumento de casos? É preciso ficar de olho
A falta de acesso e a demora de diagnóstico podem mascarar a real situação do sistema público, mas Paulo Lotufo, também epidemiologista da USP, salienta que a taxa de ocupação das UTIs desses locais aumentou – algo negado pela Secretaria Municipal de Saúde.
Ainda assim, sabe-se que, a exemplo do que ocorreu no Hospital Israelita Albert Einstein, leitos que haviam sido liberados para outras especialidades tiveram de ser direcionados novamente a pacientes com covid-19. "Teve um aumento, mas não dá para falar ainda que se trata de uma curva crescente exponencial como foi na primeira fase da pandemia", diz o cirurgião Sidney Klajner, presidente da instituição.
Fernando Torelly, superintendente executivo do HCor (Hospital do Coração), concorda: "[O número] aumenta e desce. Não é um processo de aumento contínuo como acontecia no pico da pandemia." Ainda segundo ele, os leitos destinados à doença estão com 90% de ocupação, o que não é um bom sinal. Mesmo assim, defende: "Estamos muito mais bem preparados do que estávamos em fevereiro."
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