Em maio deste ano, uma colisão entre estrelas de nêutrons emitiu tanta luz que os maiores telescópios do planeta se viraram para ver as emissões de radiação típicas da formação de buraco negro – e o que eles testemunharam foi o nascimento de um magnetar.
Publicado no Astrophysical Journal, o estudo para entender o clarão intenso captado envolveu cientistas tanto dos telescópios espaciais Hubble e Neil Gehrels Swift Observatory, ambos da NASA, como de telescópios terrestres. Ocorrida a 5,47 bilhões de anos-luz da Terra, a explosão emitiu rajadas que correram por todo o espectro eletromagnético – de ondas de rádio a raios gama. A emissão infravermelha detectada pelo Hubble também foi desconcertante: dez vezes mais brilhante do que o previsto em eventos semelhantes.
"As observações do Hubble foram programadas para pesquisar a emissão infravermelha resultante da criação de elementos pesados, como ouro, platina e urânio, durante uma colisão de estrelas de nêutrons, que dá origem a uma curta explosão de raios gama. Surpreendentemente, encontramos uma emissão infravermelha muito mais brilhante do que esperávamos", disse o astrônomo do Center for Astrophysics Harvard & Smithsonian e principal investigador do programa Hubble, Edo Berger.
Espalhados ao redor do planeta, os pesquisadores começaram a discutir o que poderia ter causado o nível incomum de brilho captado pelo Hubble. Segundo Berger, era uma questão de responder a uma pergunta: "O que é deixado para trás em tal colisão: uma estrela de nêutrons mais massiva ou um buraco negro?”
Hubble tinha a resposta
Há muito que se suspeitava que pequenas explosões de raios gama (que, normalmente, duram menos de dois segundos) são geradas pela colisão entre estrelas de nêutrons. Esses cadáveres estelares são o que resta quando uma estrela supermassiva colapsa sobre si mesma; seu núcleo se comprime de tal forma que podem ter a massa do Sol e o tamanho de uma pequena cidade.
O resultado esperado é a emissão da luz proveniente da decadência radioativa dos elementos pesados que são formados na fusão de duas estrelas de nêutrons (esse brilho é mil vezes mais intenso que o emitido por uma supernova) e o surgimento de um buraco negro.
Os dados coletados das observações frustraram os astrônomos. "A emissão infravermelha captada pelo Hubble era mais brilhante do que o esperado. Naquele imenso quebra-cabeça que era a a explosão de raios gama, uma peça não estava se encaixando corretamente”, disse a astrônoma da Universidade Northwestern e principal autora do estudo, Wen-fai Fong.
Quem apontou o que estava de cabeça para baixo foi o Hubble. “Aquela emissão infravermelha intensamente brilhante era um indício sugerindo que havia entrada de energia adicional depois do impacto. Pequenas explosões de raios gama realmente se formam a partir de colisões de estrelas de nêutrons mas, surpreendentemente, o resultado não foi um buraco negro e sim, um magnetar”, disse Berger.
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