Uma das maiores dúvidas da humanidade, a habitalidade planetária pode ser “definida como a zona em torno de uma estrela na qual um planeta é capaz de manter água líquida em sua superfície”.
Esse conceito, citado pelo cientista Dimitra Atri e pelo estudante Shane Carberry Mogan, faz parte de um estudo publicado no domingo (8) na revista Monthly Notices of Royal Astronomical Society, que tem como objetivo esclarecer quais tipos de sistemas estelares são mais propícios a hospedar alienígenas.
Após observarem cerca de 500 estrelas, os dois estudiosos do Centro de Ciências Espaciais da Universidade de Nova Iorque em Abu Dhabi (NYUAD) concluíram que os planetas sujeitos a explosões ocasionais intensas são provavelmente mais propensos à vida do que mundos com um fluxo de radiação constante e explosões de baixa energia que destroem suas atmosferas protetoras.
Planeta com água e outro sem água (Fonte: NASA/Reprodução)Fonte: NASA
Revendo conceitos
Voltando ao conceito inicial de habitabilidade planetária, Atri destaca que, embora a manutenção de água líquida seja um requisito útil para identificar planetas potencialmente habitáveis em torno de estrelas, ele não leva em consideração o efeito potencialmente prejudicial da atividade estelar nesses planetas.
Assim, os dois cientistas tentaram compreender de que forma a luminosidade estelar e as erupções estelares (flares) podem levar a uma perda de gases atmosféricos em zonas habitáveis durante longas escalas de tempo. Segundo o estudo, são esses os principais fatores que determinam a habitabilidade planetária.
Para provar suas hipóteses, os pesquisadores investigaram ocorrências de flares estelares e outros eventos climáticos espaciais ameaçadores em centenas de estrelas observáveis pelo Transiting Exoplanet Survey Satellite da NASA (TESS). A partir desses dados, a equipe elaborou um modelo de erosão e perda de atmosferas planetárias por clima espacial, em escalas de tempo de até um bilhão de anos.
Conclusões
Planets orbitando uma anã vermelha (Fonte: NASA/Reprodução)Fonte: NASA
A principal conclusão do novo estudo é de que uma estrela com um fluxo luminoso constante de luz ultravioleta extrema (XUV) tem mais probabilidade de destruir aos poucos atmosferas de exoplanetas próximos, do que erupções de alta energia que ocorrem apenas de vez em quando.
Dessa forma, Atri e Mogan dirigiram sua atenção para as estrelas chamadas “anãs M”, ou anãs vermelhas, as mais abundantes na Via Láctea. Os exoplanetas que orbitam esses astros minúsculos, com massa inferior a 14% do nosso Sol, têm as melhores chances de reter sua atmosfera em longo prazo.
Por outro lado, as anãs vermelhas com massas entre 20 e 60% do Sol experimentam uma radiação XUV mais estável, sendo mais propensas a perdas de atmosfera. Como cerca de 75% das estrelas na Via Láctea são anãs-M, o estudo sugere “que elas hospedam o dobro de planetas ao seu redor em comparação com outras estrelas”.
A busca de exoplanetas
Fonte: Giuseppe Cacace/AFP/Getty Images/ReproduçãoFonte: Giuseppe Cacace/AFP/Getty Images
Uma das consequências dessa pesquisa é que os exoplanetas que orbitam essas minúsculas anãs vermelhas devem ser mais facilmente detectáveis porque são muito maiores em relação à massa de suas estrelas-mães do que planetas que orbitam estrelas do tamanho do Sol.
Por esse motivo, esses exoplanetas “tapam” um pedaço maior de luz das estrelas quando ficam na frente delas (da nossa perspectiva na Terra), o que poderia permitir aos cientistas capturar mais detalhes sobre suas massas, atmosferas e eventual habitabilidade.
A tese dos dois cientistas poderá ser testada em breve, através da observação de um local próximo de casa: o planeta Marte. Os Emirados Árabes Unidos lançaram em julho passado a sua primeira sonda orbital, chama Hope que, ao chegar a Marte em fevereiro do ano que vem, pode ser mesmo uma esperança de desvendar o segredo do escape atmosférico.
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