A descoberta de ondas de rádio que levou à confirmação da existência do Sagittarius A*, buraco negro massivo que se encontra no centro da Via Láctea, rendeu a Roger Penrose, Reinhard Genzel e Andrea Ghez o Nobel de Física em 2020. Porém, como a Ciência não para, poucos dias antes do anúncio, em 6 de outubro, uma dupla de pesquisadores divulgou algo novo a respeito do gigante: ele gira mais devagar do que se pensava e se move a apenas 10% da velocidade da luz.
Apesar de gigantescos, tais corpos celestes são relativamente simples, sendo compostos somente de massa, carga e rotação, já que tudo o que distingue a matéria se perde em suas singularidades. Para descobrirem a primeira característica do objeto em questão, cientistas observaram sua influência sobre estrelas S, que se encontram mais próximas dele e são aceleradas a velocidades incríveis quando suas órbitas se aproximam demais. Quanto à segunda, dizem que, a exemplo de grande parte dos maiores elementos do Universo, deve ser fraca.
Portanto, faltava determinar apenas uma delas – e uma metodologia inédita foi aplicada para que o mistério fosse desvendado.
Buraco negro no centro da Via Láctea, sugerem cientistas, move-se lentamente.Fonte: Reprodução
Primeiramente, deve-se considerar que o horizonte de eventos de cada buraco negro cresce à medida que ele se "alimenta". Ainda assim, tal tamanho depende diretamente da velocidade de rotação, que, quanto maior, mais encolhe a linha da qual nem a luz escapa. Portanto, mesmo que assombrosos, se mais rápidos que semelhantes, menos abrangentes serão seus horizontes. Em segundo lugar, é preciso analisar a presença de jatos de matéria incandescente gerados por eles, que têm relação direta com seus movimentos.
Levando tudo isso em conta, a novidade é que, apesar de ser um verdadeiro monstro, jatos não são percebidos no Sagittarius A*. Além disso, um buraco negro de rotação rápida agita o disco de acreção de matéria girando fora de seu horizonte de eventos, que, acelerada, gera verdadeiros fogos de artifício. Assim, nada por ali também, ou seja, a ausência dos fenômenos sugere que ele tem um pequeno disco de acreção, ou mal está girando, ou ambos.
Jato liberado por buraco negro da galáxia M87 capturado pelo Hubble.Fonte: Reprodução
Sim, mas como descobrir a velocidade de rotação?
Mesmo com todas essas observações, chegar a estimativas demandou análises adicionais. Giacomo Fragione e Abraham Loebos, responsáveis pelo estudo, perceberam que as estrelas S circulam ao redor do Sagittarius A* em dois planos orbitais. Para exemplificar, contam que, caso tudo fosse desenhado, elas formariam um X e, se o residente misterioso do coração da galáxia girasse a mais de 10% da velocidade da luz, já teria desfeito essa formação. Complementando a ideia, tais órbitas seriam tão antigas quanto os próprios astros – e eles seguem do mesmo jeito desde sempre. Isso não ocorreria com um buraco negro mais agitado.
Resumindo, se ele fosse mais forte, acabaria alinhando aqueles que o circundam a seus movimentos, já que a força gravitacional contribuiria para o resultado. Se as estrelas são antigas o suficiente para ter apresentado mudanças e estão seguindo seu curso "de boa", além de não saírem soltando fagulhas por aí, é sinal de que o Sagittarius A* está realmente bem calmo.
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