Prevenir as pandemias, como a do novo coronavírus, pode ser até 100 vezes mais barato do que remediá-las. É o que aponta um relatório sobre biodiversidade e pandemias, assinado por 22 especialistas de todo o mundo, divulgado nesta quinta-feira (29) por uma entidade vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU).
Elaborado pela Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, na sigla em inglês), o estudo estima que a atual pandemia tenha custado entre US$ 8 trilhões e US$ 16 trilhões à economia mundial até julho.
De acordo com os autores da pesquisa, essa quantia astronômica poderia ser reduzida drasticamente, se houvesse uma maior adoção de medidas de prevenção, como reprimir o comércio de animais selvagens, que carregam vírus ou bactérias com capacidade de infectar os humanos.
As estratégias atuais para combater a covid-19 foram criticadas pelos especialistas.Fonte: Unsplash
O documento sugere que o custo para reduzir os riscos pode ser muito menor do que o valor gasto em busca de cura para as crises de saúde. “Escapar da era das pandemias requer um foco muito maior na prevenção, além da reação”, dizem os especialistas do IPBES.
Medidas preventivas
Além de combater o tráfico de animais selvagens, o relatório sugere várias outras práticas. Uma delas é a criação de um conselho intergovernamental de alto nível, que coordenaria as ações para conter rapidamente os novos surtos.
Ele também recomenda mudanças nos hábitos alimentares, incluindo a diminuição do consumo de carne, reduzindo o contato com animais que podem transmitir doenças. Os pesquisadores mencionam até mesmo a possibilidade de aumentar os impostos sobre a carne, para dificultar o acesso a ela.
O contato frequente com animais selvagens expõe o homem a diferentes agentes patogênicos.Fonte: Unsplash
Outra medida citada é proteger as florestas tropicais e os demais ecossistemas ricos, evitando a destruição da natureza, o que também é importante para desacelerar as mudanças climáticas.
Na pesquisa, liderada pelo zoólogo Peter Daszak, há ainda algumas críticas às estratégias atuais para lidar com a covid-19. Conforme os autores, ficar basicamente na dependência do desenvolvimento de vacinas para combater as doenças é um grande erro.
Cenário mais grave do que o atual
O grupo de cientistas estima que existam 1,7 milhão de vírus não descobertos em mamíferos e pássaros, dos quais 850 mil podem ter a capacidade de infectar os humanos.
Como a maioria das novas doenças — zika e ebola entre elas — e boa parte dos patógenos com potencial pandêmico têm origem em animais, eles acreditam que as pandemias vão se tornar cada vez mais frequentes, caso o contato com a vida selvagem não seja controlado.
“Sem estratégias preventivas, elas emergirão com mais frequência, se espalharão mais rapidamente, matarão mais pessoas e afetarão a economia global com um impacto mais devastador”, diz o documento, em comparação com os efeitos atuais.
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