As sondas que pousaram em Vênus conseguiram transmitir dados por menos de uma hora, antes de serem esmagadas pela imensa pressão (90 atm) e cozidas a mais de 460°C. Mandar um astronauta para a superfície do planeta para recolher amostras não seria viável, mas ele pode coletar pedras venusianas na superfície da Lua, segundo dois astrônomos da Universidade de Yale.
A superfície de Vênus, fotografada pela sonda russa Venera 14.Fonte: Roscosmos/Reprodução
Para o estudante de graduação em astronomia Samuel Cabot e seu orientador, o astrofísico Gregory Laughlin, pedaços da superfície do planeta podem ter sido lançados ao espaço por impactos de asteroides e cometas, chegando até nosso satélite.
Se isso realmente aconteceu, essa seria a maneira de se comprovar as evidências de que Vênus pode ter tido, nos primeiros dois bilhões de anos de sua história, um oceano raso de água líquida, temperaturas amenas na superfície habitável e uma fina atmosfera. A hipótese, porém, ainda não pôde ser testada porque não temos amostras geológicas para examinar.
Material pelo espaço
O estudo de Cabot e Laughlin (aceito para publicação no Planetary Science Journal) cita dois fatores que suportam essa teoria. Segundo eles, por conta das órbitas dos planetas, a velocidade com que asteroides atingem Vênus é muito maior do que quando caem na Terra – e, por isso, seu impacto geraria muito mais material lançado ao espaço.
O choque de asteroides e cometas na superfície de Vênus pode ter ejetado mais de dez bilhões de fragmentos de rochas – boa parte delas, enviada para a órbita da Terra e, consequentemente, da Lua.
O impacto de asteroides e cometas na superfície de Vênus pode ter lançado até dez bilhões de rochas na direção da órbita da Terra.Fonte: Yale University/Sam Cabot/Divulgação
“Qualquer coisa de Vênus que, nesses bilhões de anos, tenha pousado na Terra provavelmente está enterrada muito fundo, por conta da atividade geológica do planeta. Na Lua, porém, esses meteoritos vesuvianos devem estar muito mais bem preservados; nosso satélite oferece proteção para essas rochas antigas”, explicou Cabot.
Segundo Laughlin, “há uma comensurabilidade entre as órbitas de Vênus e da Terra que fornece uma rota pronta para que as rochas lançadas de Vênus viajem para as vizinhanças da Terra. A gravidade da Lua então ajuda a recolher algumas dessas pedras venusianas”.
Imagens feitas com a câmera de visão panorâmica do rover Yutu (missão Chang'e 3), do programa espacial chinês, mostram a superfície da Lua.Fonte: China's Lunar Exploration Program/Divulgação
Impressão digital planetária
Impactos catastróficos como esses, capazes de lançar pedaços da superfície de um planeta a milhões de quilômetros de distância, só acontecem a cada cem milhões de anos ou mais. No passado do sistema solar, porém, eles eram mais frequentes.
Análises químicas da composição das rochas que hoje repousam na superfície lunar podem determinar sua origem. Laughlin explicou que diferentes proporções de elementos e isótopos específicos são como uma espécie de impressão digital para cada planeta do sistema solar.
O projeto Artemis é a chance de comprovar a ideia dos pesquisadores de Yale.Fonte: NASA/ESA/Divulgação
“Um antigo fragmento de Vênus seria rico em informações sobre a história do planeta, que está intimamente ligada a tópicos importantes na ciência planetária, incluindo o influxo passado de asteroides e cometas, padrões atmosféricos dos planetas internos e a abundância de água líquida em sua superfície.”
A missão Artemis da NASA, prevista para 2024, deve ser a próxima a recolher e analisar as rochas da superfície da Lua.
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