Os cientistas a chamam de “geleira do Juízo Final” e parece que o glaciar Twaites resolveu fazer valer o apelido: imagens de satélites da agência espacial americana NASA e da europeia ESA revelaram que a estrutura das geleiras da baía do Mar de Amundsen estão se deteriorando mais rapidamente do que se supunha.
Esse é o prenúncio da desintegração das geleiras Pine Island e sua vizinha Thwaites, que resultará em um aumento do nível do mar em mais de 3 metros. O alarme soou em 2 estudos publicados no jornal Cryosphere e no Proceedings of the National Academy of Sciences.
As geleiras Pine Island e Thwaites são, hoje, responsáveis por 5% do aumento global do nível do mar. Entre as duas, a segunda é a que mais danos apresenta.
Colapso generalizado
“Ela é frequentemente citada como o ponto fraco do manto de gelo da Antártica Ocidental. Se essas geleiras se desestabilizassem, muitas áreas vizinhas também cairiam, causando um colapso generalizado e aumentando drasticamente o nível do oceano”, disse o glaciologista e paleoclimatologista Brent Goehring, da Universidade de Tulane.
A Antártica concentra 90% da água doce do mundo – 80% na parte oriental do continente. Seu manto de gelo de 1 quilômetro de espessura está assentado sobre rocha, rastejando lentamente em direção ao mar há milhões de anos. Porém, a parte ocidental conta outra história: ali, praticamente todo o leito rochoso está abaixo do nível do mar.
Juntas, a Pine Island e a Thwaites cobrem uma área do tamanho da Noruega e estão sendo corroídas em sua base por correntes oceânicas quentes. O reflexo dessa atividade insidiosa surgiu em imagens de satélite: seções de Thwaites e da Pine Island estão se separando mais rapidamente do que se pensava.
Efeito em cascata
"Encontramos danos estruturais como grandes fendas e fraturas abertas, indicando que as plataformas de gelo estão se desfazendo. Elas são como um carro lento no trânsito: forçam qualquer coisa atrás delas a diminuir de velocidade. Se elas desmoronarem no oceano, puxarão tudo o que há atrás delas", explicou o geocientista Stef Lhermitte, da Universidade de Tecnologia Delft, principal autor de um dos estudos publicados.
As fendas no manto do gelo não estavam lá em 1997, nas primeiras imagens de satélite da região. Em 2016, já havia algumas, mas não nessa magnitude, mostrando que a deterioração se acelerou nas últimas 2 décadas e piorou significativamente nos últimos anos.
Ao modelarem o impacto potencial das bases danificadas das geleiras, Lhermitte e colegas chegaram a um resultado sombrio.
Deterioração alimenta deterioração
"Essa fratura parece ter dado início a um processo de retroalimentação. À medida que as geleiras se rompem, o dano aumenta, se espalha e causa ainda mais deterioração, acelerando a desintegração das plataformas", explicou o geofísico e meteorologista Thomas Nagler, coautor de um dos estudos.
Os pesquisadores conseguiram determinar que a temperatura da água abaixo da Thwaites é de 2 °C, ou seja, acima do ponto de congelamento.
A água quente já abriu uma cavidade de 40 quilômetros quadrados e 300 metros de altura na base da geleira Thwaites.Fonte: NASA/OIB/Jeremy Harbeck
"Sabemos que 24% do gelo glacial na Antártica Ocidental está se tornando rapidamente cada vez mais fino e instável. Os resultados desses novos trabalhos mostram claramente que as geleiras Pine Island e Thwaites estão mais vulneráveis do que nunca”, disse o geofísico e líder da missão CryoSat (programa da ESA para monitorar o gelo polar através de satélites), Mark Drinkwater.
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