Jaroslav Flegr (Fonte da imagem: The Atlantic)
Pouco conhecido entre o meio científico, o trabalho do pesquisador checo Jaroslav Flegr mostra que gatos domésticos podem estar ajudando a formar uma massa de humanos que têm a mente controlada de forma discreta por um parasita. No caso, o responsável é o Taxoplasma gondii, bastante conhecido por ser o responsável pela toxoplasmose, doença normalmente transmitida pelos felinos.
Desde a década de 1920, pesquisadores recomendam que mulheres grávidas evitem mexer em caixas de areia, já que o micróbio pode ser transmitido para as crianças, provocando severos danos cerebrais no processo. Apesar de o organismo ser perigoso, pessoas saudáveis não costumam ter muito problemas com ele — nesses casos, a contaminação geralmente se manifesta na forma de uma gripe de curta duração.
Porém, o protozoário continua dentro do cérebro do humano infectado, de forma totalmente dormente — ao menos na concepção tradicional da medicina. Segundo Flegr, na verdade os parasitas começam a reorganizar as conexões entre os neurônios, o que ocasiona mudanças em nossa forma de reagir a situações ameaçadoras, na confiança que temos em outros, a frequência com que saímos de casa e até mesmo nas preferências por determinados cheiros.
Protozoário mortal
Tudo isso pode resultar em uma maior exposição a perigos, o que inevitavelmente resulta na morte da pessoa infectada. “O Toxoplasma pode matar tantas pessoas quanto a malária, ou no mínimo um milhão de pessoas a cada ano”, afirma o pesquisador.
Entre os motivos que levam a pesquisa de Flegr a ser pouco conhecida está o fato de que ele não costuma participar muito de convenções científicas. Além disso, sua tese mexe com a resistência psicológica que muitos têm ao fato de que seres humanos podem estar sendo controlados por outros organismos. “Ninguém gosta de se sentir como um fantoche. Leitores podem ter se sentido ofendidos”, afirma o cientista.
Tese que começa a ser aceita
Após ter sido ignorado durante anos, o trabalho começa a ganhar o respeito de outros pesquisadores. Entre eles está Robert Sapolsky, neurobiologista da Universidade de Stanford, que descobriu recentemente alguns aspectos interessantes sobre o Taxoplasma Gondii. Segundo ele, o parasita é capaz de mudar o comportamento de ratos, fazendo com que eles se tornem presas fáceis para os gatos de quem normalmente costumam se esconder.
Para tornar isso possível, o protozoário modifica os circuitos cerebrais do roedor, especificamente a parte que lida com emoções como medo, ansiedade e desejo sexual. “Em geral, isso se trata de uma neurologia selvagem e bizarra”, declara o pesquisador.
O mais assustador é o fato de que esse pode não ser o único organismo capaz de controlar o comportamento humano. “Minha estimativa é que há muitos exemplos de situações semelhantes acontecendo com outros mamíferos, com parasitas que sequer conhecemos”, completa Sapolsky.
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