Conectar o cérebro a computadores e dispositivos eletrônicos é uma ideia tentadora. Muita gente reclama, por exemplo, de ter que interromper o chat no MSN para dar atenção a outros aspectos essenciais da vida, com alimentação e higiene pessoal. Um dia, quem sabe, essas pessoas não precisarão se desconectar nunca: trocarão mensagens pela internet usando apenas o pensamento.
Se depender da ficção, ideia é o que não falta. Um dos exemplos mais famosos, certamente, é o do filme “Matrix”. Nele, seres humanos são literalmente plugados à realidade virtual, por meio de conectores “instalados” na coluna vertebral de cada pessoa. E por mais incrível que pareça, algo semelhante tem sido desenvolvido por cientistas e engenheiros do mundo todo.
As implicações, obviamente, são as melhores possíveis. Entre as portas que se abrem com essa pesquisa, está a possibilidade de oferecer uma forma de comunicação ou mobilização para pessoas que perderam suas funções motoras devido a acidentes ou doenças. E para começar a lista de experiências em andamento, nada como o caso de uma pessoa famosa e muito bem quista pela comunidade científica.
1. Comunicação por ondas cerebrais
Máquina poderá converter pensamentos de Hawking em palavras sintetizadas (Fonte da imagem: Stephen Hawking)
O professor e cosmólogo Stephen Hawking é uma das figuras científicas mais famosas do mundo, tendo aparecido até mesmo em episódios de famosas séries de TV, com Os Simpsons, Futurama e Jornada nas Estrelas. Em todas essas participações, uma característica se sobressai: a voz computadorizada usada por Hawking para se comunicar.
Vítima de esclerose lateral amiotrófica, Hawking está quase completamente paralisado. Por enquanto, a comunicação é mantida por meio de um sistema que aceita os movimentos da bochecha e dos olhos do físico teórico. Entretanto, a situação de Hawking piorou um bocado nos últimos anos e, para evitar que o mundo perca uma das mentes mais brilhantes que já surgiram, pesquisadores têm tentado encontrar uma nova solução de comunicação para o cientista.
Uma das possibilidades consideradas é a leitura de ondas cerebrais, que seria capaz de traduzir o pensamento de Hawking em palavras. Isso seria como operar um computador telecineticamente — ou seja, com o “poder da mente” — e, de certa forma, essa técnica já foi desenvolvida por pesquisadores da Universidade de Utah, nos Estados Unidos.
Por meio de 16 eletrodos implantados no cérebro de um paciente epilético que teve parte de seu crânio removido em um tratamento, cientistas conseguiram monitorar as áreas do órgão relacionadas à linguagem e decifrar os padrões cerebrais para 10 palavras básicas: sim, não, quente, frio, fome, sede, oi, tchau, mais e menos.
Ao repetir as palavras, o computador foi capaz de identificá-las de 76% a 90% das vezes. Podemos dizer que, de maneira rudimentar, a máquina leu o pensamento do paciente. Se tudo der certo, Siri, Vlingo e outros sistemas de comandos por voz serão aposentados no futuro.
2. Macacos tocam objetos virtuais
As descobertas de Miguel Nicolelis já foram tema de artigo no Tecmundo, mas não podemos deixar de inseri-las nesta lista. O neurologista brasileiro lidera uma equipe de pesquisa na Universidade de Duke, nos Estados Unidos, que foi responsável por grandes descobertas.
Para começar, esses pesquisadores conseguiram decifrar as pequenas descargas elétricas que acontecem em nosso cérebro e usar o órgão como uma espécie de interpretador de comandos. Além de possibilitar que macacos controlassem braços mecânicos com os seus cérebros, o que pode ser comparado com a ação de download, Nicolelis e seus colegas também conseguiram o contrários: enviar descargas elétricas que possam ser entendidas pelo órgão.
Dessa forma, o cientista brasileiro conseguiu fazer com que um macaco operasse um braço computadorizado, sendo capaz de movê-lo sobre objetos de um mundo virtual. Por si só, isso já seria o bastante, não fosse o fato de que a cobaia pudesse também sentir a textura desses objetos: um comando enviado para o cérebro do animal criava a sensação de tato.
Em outro experimento, os cientistas foram um pouco mais audaciosos. O padrão cerebral de uma macaca localizada nos Estados Unidos e que caminhava sobre uma esteira foi capaz de movimentar um robô no Japão, por meio da internet. Um fato ainda mais curioso aconteceu: as ondas cerebrais viajaram mais rapidamente pela grande rede de computadores do que pelo corpo da macaca. Em outras palavras, o pensamento do símio movia mais rapidamente o robô do outro lado do mundo do que as próprias pernas.
Com essas pesquisas, Nicolelis espera construir uma espécie de veste especial para pessoas com paralisia. Se der tudo certo, a primeira demonstração dessa roupa deve ser apresentada durante a abertura oficial da Copa do Mundo no Brasil, em 2014. Nós, obviamente, torcemos para que isso aconteça de fato.
3. Máquina de capturar sonhos
Imagine poder visualizar o pensamento de alguém. Essa é a proposta dos Laboratórios de Neurociência Computacional ATR, do Japão. Por meio de uma técnica que envolve o uso de máquinas de ressonância magnética para mapear o fluxo do sangue dentro do cérebro, cientistas conseguiram visualizar imagens de dados (pensamentos) capturados em tempo real.
Teoricamente, esse método pode ser usado para capturar representações gráficas dos sonhos de alguém, enquanto a pessoa dorme. Além disso, pesquisadores da Universidade da Califórnia aplicaram uma técnica semelhante para capturar imagens de dados em movimentos. O vídeo acima mostra, em paralelo, a imagem observada e a que foi captada durante o experimento.
4. Cérebros ciborgues contra o Mal de Parkinson
Técnica experimentada em ratos pode vir a ajudar humanos no futuro (Fonte da imagem: BBC)
De modo geral, podemos substituir componentes danificados de computadores para que a máquina volte a funcionar corretamente. Agora, cientistas israelenses pretendem fazer com que o cérebro humano também possa ser “consertado”. E, de acordo com as experiências realizadas em ratos, a técnica parece funcionar.
O estudo consiste em danificar determinadas áreas do cérebro do roedor responsáveis por movimentos muito específicos, como piscar os olhos. Depois, os pesquisadores implantam, nas cobaias, eletrodos capazes de reproduzir o mesmo estímulo nervoso. Assim, ao realizar uma rotina de testes com o rato, os cientistas são capazes de constatar a eficácia do “conserto”.
No futuro, essa mesma técnica poderia ser aplicada em humanos para reduzir ou até mesmo eliminar os efeitos causados por derrames e pelo Mal de Parkinson. Se depender de pesquisas como essas, a tarefa não parece assim tão impossível de ser realizada.
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