Os longos períodos vividos em ambiente de microgravidade fazem o cérebro se reorganizar dentro da caixa craniana – essa foi a conclusão da mais nova etapa no trabalho de uma equipe de pesquisadores da Bélgica, da Rússia e da Alemanha que, desde 2014, estuda os efeitos das longas missões no espaço nos tecidos do cérebro.
Segundo o trabalho publicado no jornal Science Advances, onze cosmonautas participantes de missões de longa duração (em média, 171 dias) na Estação Espacial Internacional (ISS) se submeteram a centenas de varreduras cerebrais entre fevereiro de 2014 e março de 2019, tanto antes do lançamento quanto 9 dias depois do retorno. Oito ainda foram examinados 7 meses depois, para analisar se as mudanças percebidas haviam sumido.
As varreduras revelaram que o cérebro, em longos períodos de microgravidade, migra dentro da caixa craniana; o líquido cefalorraquidiano (ou LCR, uma solução salina pobre em proteínas e células, que age como um amortecedor para o córtex cerebral e a medula espinhal), por sua vez, aumenta de volume, acabando por se acumular ao redor dos olhos (o que provoca danos à visão, mas de maneira reversível).
A reorientação do cérebro fez surgir novas habilidades motoras, além de equilíbrio e coordenação mais apurados. O cérebro dos cosmonautas voltou à posição normal depois de 7 meses em Terra.
Normalidade ou demência
Em um estudo publicado em 2019, os mesmos pesquisadores descobriram que o aumento do volume de LCR também fazia com que os ventrículos cerebrais (um sistema de 4 cavidades interconectadas) aumentassem em média 11,6%.
Passados os 7 meses, todos os cosmonautas tinham ventrículos cerebrais 6,4% maiores, em média, do que antes de serem expostos à microgravidade.
Ainda não se sabe quais são os efeitos de longo prazo sobre o cérebro no espaço. Durante o acompanhamento, não foram detectados sintomas da chamada hidrocefalia de pressão normal (os ventrículos também aumentam, causando dificuldade para andar, problemas de bexiga e demência). Não há dados depois do período de observação.
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