Na última terça-feira (08), a expectativa de lançamento de uma vacina eficiente contra o novo coronavírus recebeu um duro golpe, estampado em manchetes do mundo todo. Com encomendas de ao menos 2,94 bilhões de doses realizadas por diversos países e já no último estágio de testes, a companhia farmacêutica AstraZeneca e pesquisadores da Universidade de Oxford anunciaram uma pausa nos experimentos realizados com a substância em desenvolvimento. Estados Unidos, África do Sul, Brasil e Reino Unido foram afetados por "eventos adversos" não detalhados ocorridos com um voluntário. E o que dizem os especialistas a respeito do assunto?
"Espero que não esteja relacionado com a vacina, já que ela pareceu promissora até o momento", declarou Florian Krammer, virologista da Icahn School of Medicine (EUA). Isso porque, primeiramente, é preciso identificar se o paciente em questão recebeu o imunizador ou o placebo e qual foi a origem de suas manifestações, em um processo de investigação que já está em andamento e que a própria responsável pelos estudos considera "uma ação de rotina que deve acontecer sempre que houver uma doença potencialmente inexplicada em um dos ensaios".
Infelizmente, é preciso considerar o pior cenário. "[Se a ocorrência] estiver definitivamente ou mesmo provavelmente conectada [com a vacina], pode ser o fim da candidata. Caso contrário, o bloqueio pode ser retirado em questão de semanas", explicou Marie-Paule Kieny, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisa Médica e de Saúde da França (INSERM). "O controle clínico mostra que existem controles e equilíbrios de funcionamento, apesar da pressão política, o que lembra a todos, mesmo presidentes, que, para as vacinas, segurança é primordial", complementa. O problema é que, como não se sabe exatamente o que ocorreu, não há como mensurar os reais impactos da situação.
Investigações aprofundadas estão sendo realizadas.Fonte: Unsplash
Desconhecimento e preocupação
No Brasil, a vacina de Oxford está sendo testada em cerca de 5 mil pessoas no experimento que foi iniciado em junho e é coordenado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Existe um acordo entre o governo e a AstraZeneca que garante acesso a 100 milhões de doses, das quais 30 milhões seriam entregues entre dezembro e janeiro e 70 milhões ao longo dos dois primeiros trimestres de 2021. O contrato ainda não foi firmado.
Nesta manhã (09), o ministro britânico da Saúde, Matt Hancock, em entrevista à SkyNews, afirmou que o caso é "obviamente um desafio. Mas, na verdade, não é a primeira vez que isso acontece, e é um processo normal em testes clínicos", referindo-se à primeira paralisação dos estudos, algo confirmado por fontes à revista Nature. Na ocasião, investigações detalhadas mostraram que o indivíduo foi diagnosticado com uma "doença neurológica não relacionada [à vacina]".
A falta de transparência quanto à notícia é uma preocupação de Paul Komesaroff, médico e bioeticista da Monash University (Austrália). "Os testes são todos apoiados publicamente, a doença é a maior ameaça à humanidade em 100 anos, os processos de desenvolvimento de drogas são altamente politizados e o resultado só será bem-sucedido se a confiança pública puder ser garantida e mantida", salientou.
Impactos só serão conhecidos com a divulgação de detalhes do evento.Fonte: Unsplash
O que vem a seguir?
Agora, a maior dificuldade está em desvendar o que ocorreu. "Isso pode ser difícil de descobrir", disse Jonathan Kimmelman, bioeticista que estuda ensaios clínicos na Universidade McGill (Canadá). Caso o comitê designado para a tarefa seja bem-sucedido, saberemos o futuro da candidata. De qualquer forma, a prioridade é manter o voluntário seguro e recebendo o melhor tratamento médico possível, como defendeu Kimmelman.
Por fim, Paul Griffin, pesquisador de doenças infecciosas da Universidade de Queensland (Austrália) está confiante, já que, segundo ele, o "evento adverso" pode incluir o registro de entrada de um participante em um hospital por qualquer motivo, o que é amparado por protocolos de segurança. "Tenho plena confiança de que o grupo designado avaliará rapidamente a situação e tornará públicos os resultados da investigação", explicou
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