Nós passamos a infância inteira acreditando que é possível cavar um buraco no Brasil e sair na China. Como você deve saber, isso não é verdade, pois existem várias camadas pelas quais teríamos de passar e algumas delas não permitiriam que a vida humana fosse preservada. O núcleo da Terra também deveria ser ultrapassado e a composição dele faria com que qualquer ser vivo fosse carbonizado em instantes.
Mas a qual distância é possível chegar sem correr riscos? Será que existe alguma forma de passar pela crosta terrestre e atingir o manto do planeta? Até onde o ser humano já conseguiu chegar? Descubra a resposta para todas as perguntas aqui neste artigo que o Tecmundo preparou especialmente para você.
As camadas da Terra
Se um dia alguém quiser chegar realmente até o centro da Terra, precisará passar por várias camadas existentes no planeta (cada uma delas oferece uma constituição química diferente). Considerando um ponto plano no nível do mar, nos primeiros 35 km está a crosta terrestre, que é composta por material rochoso sólido.
(Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons)
Dos 35 aos 2890 km está o manto, região composta por materiais fundidos e sólidos, que representam o magma terrestre. E dos 2890 ao 6378 está o núcleo do planeta, que é dividido em uma parte externa líquida e outra interna sólida, que sofre com altíssima pressão atmosférica.
Até hoje, o homem só conseguiu realizar escavações na crosta terrestre, mas deseja chegar ao manto para uma série de estudos que podem ser realizados para facilitar o entendimento de algumas questões sobre a Terra. Será que ainda falta muito para isso?
Até onde o homem já foi?
No início dos anos 70, a extinta União Soviética iniciou as escavações do Poço Superprofundo de Kola, que tentaria perfurar a crosta terrestre o máximo possível. Os objetivos do projeto eram relacionados à extração de rochas do período arqueano, que permitiriam vários entendimentos acerca da formação terrestre.
Em 1982 as perfurações chegaram aos 12.000 metros e sete anos mais tarde chegaram aos 12.262 metros. Os engenheiros responsáveis pelo projeto queriam atingir os 15.000 metros em 1993, mas foram obrigados a abandonar o projeto devido às altas temperaturas existentes nas camadas mais baixas da Terra.
(Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons)
Quando atingiram os 12.262 metros, os equipamentos de perfuração registravam temperaturas próximas aos 180 graus célsius, sendo que os cálculos previam que o calor poderia aumentar muito, chegando aos 300 graus se as escavações continuassem até os 15.000 metros desejados.
Por que o calor aumenta tanto?
Existe uma propriedade conhecida pelos estudiosos do solo como Gradiente Geotérmico, que mostra as alterações na temperatura, de acordo com a profundidade das escavações. Em média, a cada 33 metros de escavação, há um aumento de 1 grau – ressaltamos que esse é um valor médio que apresenta variações em diferentes regiões do planeta.
O motivo para esse aumento é a proximidade com o manto da Terra. Quanto mais perto dele estiverem as perfurações, maior será a influência do calor gerado pelo magma (rocha fundida composta por diversos elementos químicos), que pode variar entre 700 e 1300 graus célsius.
Por que buscar o manto?
O grande foco de todas estas pesquisas é conseguir atingir o manto terrestre, onde as rochas possuem bilhões de anos e podem revelar vários mistérios sobre a formação geológica da Terra. Além disso, não são apenas rochas que os cientistas querem encontrar em profundidades elevadas.
A lava seria a porção em fusão do magma (Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons)
Há esperanças de que bactérias e outros pequenos organismos também sejam encontrados. Se isso acontecer, as chances de existir vida fora da Terra podem ser muito maiores. Isso porque as temperaturas encontradas no manto terrestre podem ser similares às de outros planetas, assim como as formações rochosas existentes lá.
Embaixo do mar é mais fácil
Vários estudos mostram que é mais fácil chegar ao manto terrestre por meio de perfurações oceânicas. Estima-se que a crosta embaixo do oceano tenha apenas 7 quilômetros de espessura, contra mais de 70 em solo firme – além de oferecer menos resistência.
Logicamente, isso não acontece próximo às praias, mas sim em longas distâncias, onde a camada de sedimentos é menor. Com os estudos relacionados às perfurações no oceano, os cientistas pretendem compreender melhor as causas de maremotos que geram tsunamis.
Os riscos da escavação de minas
Em vários países existem registros de escavações de minas para a captação de minérios dos mais diversos tipos. Os escavadores precisam ir cada vez mais fundo para conseguir as pedras preciosas que podem ser vendidas por preços bem altos, mas esse processo não é nada simples. Há muitos acidentes que podem acontecer, causando a morte de centenas de pessoas todos os anos.
Um fenômeno conhecido como Rock Burst (Explosão de Rochas) pode soterrar os trabalhadores e danificar equipamentos sem grandes explicações. Uma das hipóteses mais aceitas até o momento é a seguinte: o solo está em equilíbrio, mas quando é escavado, passa a apresentar irregularidades na pressão. As rochas precisam voltar a “assentar” para recuperar o estado inicial.
Qual a mina mais profunda?
Até pouco tempo atrás, a mina mais profunda que era a TauTona Mine (ou Western Deep No.3 Shaft), localizada na África do Sul. Ela possui 3,9 quilômetros de profundidade e dela são extraídas 6 toneladas de ouro por ano. Com a atual profundidade, especula-se que ela possa ser explorada até 2015. Ainda não há informações sobre escavações maiores, devido aos riscos que isso pode representar.
Agora, também na África do Sul, a Mponeng já possui os mesmos 3,9 quilômetros e os engenheiros responsáveis querem aumentar a profundidade para 4,4 quilômetros em breve. Nesses locais, as temperaturas chegam perto dos 60 graus célsius, o que seria letal para os seres humanos.
Trabalhador a 1.900 metros da superfície na mina Mponeng (Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons)
Por essa razão, sistemas de ar condicionado foram instalados para deixar a temperatura perto dos 30 graus célsius. Mas o desafio maior é conseguir fazer com as estruturas da mina suportem a pressão atmosférica e não causem nenhum desmoronamento capaz de matar mineiros, engenheiros e outros trabalhadores do local.
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Como você pode ver, ainda falta muito para que possamos capturar materiais do centro da Terra realmente. Provavelmente nunca seja possível chegar até o núcleo, mas as tentativas para atingir o manto mostram bons resultados.
E é possível que nos próximos anos tenhamos novas informações sobre os estudos realizados com as rochas obtidas nas camadas mais profundas da Terra. Por enquanto, apenas esperamos por novas descobertas.
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